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Cruz Vermelha denuncia drama da guerra na Colômbia

Ingrid Betancourt: refém das Farc há seis anos. Reuters

A Suíça, a Espanha e a França iniciam uma missão humanitária para salvar Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia, seqüestrada pelas Farc há seis anos.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha denuncia um drama menos conhecido: o de milhares de colombianos que a cada ano fogem da guerra entre as Farc, os paramilitares e o exército.

Há 45 anos as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) travam uma guerra contra o Estado. Atualmente mantêm mais de 700 pessoas como reféns, entre eles, 39 políticos.

O calvário da franco-colombiana Betancourt, de 46 anos, tornou-se uma espécie de símbolo dessa guerra. Agora, uma missão organizada pela Suíça, Espanha e França tenta resgatá-la. Há rumores de que ela estaria gravemente enferma.

O Ministério suíço das Relações Exteriores informou apenas que uma missão humanitária dos três países que tentam servir de mediadores no conflito começou a operar nesta quarta-feira (02/03) junto com as autoridades colombianas envolvidas com o caso.

Segundo a Rádio Suíça de Língua Francesa (RSR), os representantes do país nessa missão já mantêm contatos diretos com os guerrilheiros há cinco anos, embora não o admitam publicamente.

Drama dos deslocados



Bem menos conhecido do que o caso de Betancourt é o maior drama humanitário desse conflito. Nas últimas quatro décadas, entre 2 e 3,5 milhões de colombianos tiveram de abandonar suas terras para fugir dos combates, das minas, das ameaças de morte ou das pressões para colaborar com as Farc ou com o exército.

É o que denuncia um relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), divulgado nesta quarta-feira na sede da organização em Genebra. “Há uma relativa melhora da segurança, mas o conflito continua”, disse o porta-voz do CICV na Colômbia, Yves Heller.

“Houve um aumento dos deslocamentos de pequenos grupos com menos de 50 pessoas, provocados com maior freqüência por ameaças e pressões. Desde o início deste ano, há também fugas em massa, notadamente no estado de Arauca, na fronteira com a Venezuela. Constatamos também um ligeiro aumento das execuções sumárias”, revelou Heller.

O CICV, que atua desde 1969 na Colômbia, admite não ter dados definitivos, mas denuncia uma realidade implacável. A fuga significa que, às vezes, os deslocados abandonam seu ambiente de vida e seus bens para se reencontrar nos bairros miseráveis das cidades colombianas, “em condições de vida extremamente difíceis”, como diz Yves Heller.

O relatório aponta que os grupos mais vulneráveis são os afro-colombianos, os povos indígenas e os pobres. Segundo o CICV, mais da metade dos “refugiados internos” são crianças com menos de 18 anos e a maioria jamais volta aos seus locais de origem.

O silêncio das vítimas

No ano passado, o CICV documentou aproximadamente 1.700 casos de violações ao Direito Internacional Humanitário na Colômbia, como execuções sumárias, desaparições forçadas e seqüestros.

A organização ajudou aproximadamente 2.500 pessoas que tinham recebido ameaças a refugiar-se em zonas mais seguras, o que representa um aumento de 40% com relação a 2006.
O CICV forneceu também alimentos e mantimentos para mais de 66 mil pessoas deslocadas, o que representa um aumento de 6% em relação ao ano anterior.

Os programas estatais de assistência aos deslocado melhoraram nos últimos anos, segundo Heller. Mesmo assim o CICV vê a necessidade de aumentar seu apoio a essas pessoas, através de projetos nas áreas de agricultura e abastamento de água.

“O silêncio guardado pelas numerosas vítimas do conflito armado corresponde à pouca visibilidade que elas têm no plano internacional e à sua fraca presença na mídia”, constata o CICV. “É evidente que a dimensão real dos efeitos do conflito armado na Colômbia ainda não é conhecida”, conclui.

swissinfo, Fréderic Burnand, Genebra

O avião fretado pela Suíça, a Espanha e a França para a missão humanitária de resgate de Ingrid Betancourt chegou nesta quinta-feira à Colômbia, mas as Farc não haviam dado qualquer resposta sobre um possível encontro dos enviados europeus com a refém.

O objetivo oficial da missão é “manter contato” com as Farc para “obter acesso” à seqüestrada, cujo estado de saúde, segundo o governo francês, é crítico.

O filho de Betancourt, Lorenzo Delloye, confirmou informações veiculadas na imprensa internacional de que sua mãe se encontra em greve de fome desde 23 de fevereiro último.

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