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Escolas suíças no Brasil se preparam para o futuro

Alunos da escola suíça em São Paulo, Brasil. Keystone

A conferência anual de escolas suíças no exterior foi palco, no início da semana, para debates sobre o futuro dessas 17 instituições educacionais atuantes em várias partes do mundo.

Uma excelente oportunidade para o diretor das escolas no Brasil apresentar um plano de reformas, cujo principal objetivo é mostrar que educação também pode ser um produto de exportação com o selo suíço de qualidade.

Como todos os anos durante o verão, diretores das escolas suíças atuantes em várias partes do mundo encontram-se em uma cidade helvética para debater os temas mais prementes do setor. Em 2010, a reunião foi realizada de 5 a 6 de julho em Chur, capital do cantão dos Grisões, na região leste do país.

Dentre os convidados externos, em geral personalidades ligadas à área de educação, estava a deputada federal Brigitta Gadient, ex-presidente da comissão de gestão do orçamento da Câmara dos Deputados. No seu discurso, ela ressaltou a importância política desses estabelecimentos. “As escolas suíças no exterior contribuem de maneira fundamental ao reforço da presença da Suíça no mundo e à imagem da Confederação Helvética.”

A parlamentar lembrou também o caráter único dessas escolas. “Elas têm a particularidade de oferecer um ensino bilíngue e sua criação permitiu igualmente melhorar a educação em países como Itália e Espanha”, lembrou.

Futuro no Brasil

Um dos palestrantes no encontro em Chur foi Bernhard Beutler. Aos colegas presentes, o diretor-geral das escolas suíças em Curitiba e São Paulo veio explicar o grande plano de reestruturação dos estabelecimentos previsto para ser concluído até 2013. ( ouça o áudio clicando no link inferior na coluna direita)

Sua principal justificativa é enfrentar os problemas comuns à maioria das escolas suíças no exterior: a redução gradual do número de crianças com passaporte suíço – “já que as multinacionais preferem cada vez mais contratar mão de obra local nos países que atuam, explica Beutler” – e garantir a sobrevivência em um contexto de corte gradual das subvenções oficiais.

Essa realidade fez com que, em 2000, as escolas suíças de Curitiba e São Paulo fusionassem. Em 2006, elas passaram a ostentar o nome de “Associação Escola Suíço-Brasileira”. Um ano depois, Beutler foi nomeado diretor-geral das duas instituições, após dirigir por dois anos a escola de Curitiba, quando aumentou o número de alunos de 290 para 540, além de introduzir a certificação de qualidade ISO 9001.

Segundo Beutler, o objetivo atual é conseguir a mesma certificação para a escola em São Paulo e acelerar o processo de integração pedagógica e administrativa entre os dois estabelecimentos. “Já melhoramos bastante na área de design corporativo, mas agora queremos reforçar as sinergias entre os professores”, ressalta o diretor.

Ele acrescenta que o plano inclui também um projeto de plataforma comum de informática, que irá permitir melhorar a comunicação nas escolas. “Uma das vantagens é os pais terem acesso às notas dos filhos através da intranet.”

Com 1.200 alunos nos dois estabelecimentos, a execução do plano já traz frutos. “Temos até listas de espera”, conta orgulhoso o diretor, revelando também que mais de 75 mil francos foram economizados só em 2010, apesar da oferta de idiomas ter sido expandida para cinco – “incluímos agora espanhol no currículo” e de mais atividades estarem sendo oferecidas como teatro em alemão ou feiras de ciência.

Concorrência

A necessidade de profissionalizar as escolas suíças no Brasil explica-se também pela concorrência. “Em São Paulo temos um grande número de escolas estrangeiras e também privadas com um bom nível de ensino”, afirma Beutler.

Com apenas 18% dos fundos cobertos pelas subvenções do governo helvético, as escolas suíças no Brasil precisam gerar a maior parte do seu orçamento através da cobrança de mensalidades. “E isso nos obriga a pensar como empresas, das quais os pais e nossos alunos são os clientes”, admite o diretor, sem negar a dificuldade que foi fazer essa mudança de enfoque.

Esse reposicionamento faz com que as escolas suíças deixem de existir apenas para atender as comunidades helvéticas no exterior e passem a ser plataformas de exportação de um outro produto de alta qualidade, a educação. “Em um país sem recursos naturais como a Suíça, o que importa é o capital humano. Por isso nossa força está na educação. E ela tem uma grande reputação no exterior”, diz.

O interesse nas escolas suíças no Brasil existe não apenas por parte das famílias genuinamente brasileiras, mas também por outros estrangeiros. “Em Curitiba temos 20 diferentes nacionalidades representadas entre os alunos e em São Paulo, 38.”

Valores suíços

Por estarem disputando espaço no mercado privado, as escolas suíças no Brasil também sofrem outro tipo de pressão. Isso foi detectado por Thomas Brülisauer, diretor do Colégio Suíço-Brasileiro de Curitiba, enviado há apenas um ano e meio ao Brasil. “Uma diferença muito grande é o fato da escola suíça de Curitiba ser particular, o que significa que as expectativas dos pais são muito grandes.”

Porém, apesar de ter mensalidades acima da média, as escolas têm uma procura crescente. “A Suíça tem um valor agregado no Brasil que é o da qualidade. E aqui no colégio oferecemos uma educação internacional em várias línguas, o que agrada bastante aos pais, mesmo aqueles que não têm nenhuma relação direta com a Suíça”, explica Brülisauer.

Ao seu lado, Walter Stooss concorda com a afirmação do colega balançando a cabeça. De 1994 a 2005, esse suíço atuou como professor e depois diretor da escola em Curitiba. Depois retornou à Suíça por questões familiares. “Sou casado com uma brasileira e gostaria que ela também conhecesse a minha pátria”, justifica.

Em sua opinião, valores são outros motivos que levam brasileiros a colocar seus filhos em uma escola suíça. “Eles querem que suas crianças aprendam não apenas a ter pontualidade e responsabilidade, mas também o convívio com outras culturas e religiões, algo tão comum na Suíça, onde aprendemos a integrar e respeitar pessoas de outras culturas”

Alexander Thoele, swissinfo.ch

No exterior existem atualmente 17 escolas suíças. Elas estão espalhadas na Europa, África, Ásia e América Latina.

Elas são frequentadas por 6570 alunos, dos quais 1.800 têm a nacionalidade suíça. No total, elas empregam 500 professores.

A proporção mínima de escolares com um passaporte suíço está estabelecida em lei: 30% nas escolas pequenas e 20% nas maiores .

Esses estabelecimentos foram atingidos recentemente por medidas de economia que provocaram, dentre outros, o aumento das taxas escolares e a diminuição dos salários dos professores.

Em 2008, contra a posição do governo federal, o Parlamento helvético decidiu aumentar as subvenções de 15 a 20 milhões de francos .

Em 2009, o Departamento Federal de Cultural colocou à disposição um subsídio de aproximadamente 17 milhões de francos .

Essas escolas beneficiam também da parceria com um ou vários cantões.

O suíço originário do vilarejo de Hermrigen (cantão de Berna) vive no Brasil desde novembro de 2005, quando assumiu a direção do Colégio Suíço-Brasileiro de Curitiba. Desde 2007 é diretor-geral das duas escolas suíças no Brasil – Curitiba e São Paulo.

Ele se formou em administração de empresas na Escola Superior de Administração e Economia de Berna, com o foco principal em marketing. Depois fez um estudo de professor de economia na Universidade de St. Gallen.

Foi vice-diretor da escola profissionalizante de comércio de Biel e, até o final de 2005, coordenador das escolas profissionalizantes do cantão de Solothurn.

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