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Um nome suíço gravado na história da arte brasileira

Pôr-do-sol, de Oswaldo Goeldi.

Na Suíça, o nome da família Goeldi é comumente associado às ciências e à pessoa de Emílio Goeldi, botânico e pesquisador que, no final do século XIX, viveu durante anos no Brasil e construiu uma obra que até hoje é uma das principais referências científicas sobre a fauna e a flora amazônicas.

O nome Goeldi no Brasil também é referência no mundo das artes plásticas através de Oswaldo, filho de Emílio.

O nome Goeldi no Brasil também é referência no mundo das artes plásticas desde que Oswaldo, filho de Emílio, surgiu na cena artística do país com suas gravuras e seu traço singular.

Oswaldo Goeldi nasceu no Rio de Janeiro, em 1895, fruto do casamento de Emílio com a também suíça Adelina Meyer. Sua morte, em 1961, vai completar 50 anos, e a data vem sendo comemorada com uma exposição que percorrerá o Brasil. Em cartaz na terra natal do artista até o dia 5 de setembro, no Centro Cultural dos Correios, a exposição “Goeldi, o Encantador de Sombras” reúne cerca de 120 trabalhos, entre gravuras e desenhos, e também uma série de registros, estudos e vídeos relacionados a sua obra.

A exposição conta com outras atrações, além dos quadros e xilogravuras. Um ateliê com ferramentas (espátulas, tesouras e escovas, entre outras) utilizadas por Oswaldo Goeldi em seu cotidiano de trabalho foi remontado e leva o visitante a uma viagem pelo tempo e pela obra do artista. A exposição também tem o objetivo de resgatar a memória sobre a vida de Goeldi, por isso traz uma série de objetos pessoais, fotos de família e reportagens.

“O cunho desta mostra é apresentar, principalmente para as novas gerações, o trabalho e a poética de um dos artistas mais importantes da história da arte brasileira. Nosso objetivo é expor o máximo de obras e informações e muito material inédito iconográfico e documental, tudo catalogado e restaurado pelo Projeto Goeldi em parceria com a Associação Oswaldo Goeldi”, afirma Lani Goeldi, sobrinha-neta do artista e curadora da exposição.

O visitante também pode assistir na exposição a dois vídeos sobre a obra de Goeldi. Um deles, produzido pelo cineasta Allan Ribeiro, traz depoimentos de artistas como Noemi Ribeiro, Adir Botelho, Darel Valença Lins, Rubem Grillo e Anna Letycia. O segundo vídeo, produzido pela artista plástica Lygia Pape logo após a morte de Goeldi, traz áudios com falas de Manuel Bandeira e de Hélio Oiticica sobre imagens de gravuras criadas pelo artista de origem suíça.

Formador

Um ponto muito interessante da mostra é sala de atividades educativas, que oferece aulas de xilogravura para crianças, além de recortes de jornais e revistas. A preocupação em ensinar respeita a memória de Oswaldo Goeldi, que também angariou grande reputação como professor e, nas escolas de artes do Brasil, é apontado como um dos maiores formadores de gravuristas em madeira do país no século XX.

Uma de suas discípulas, a artista plástica Anna Letycia, ressalta as qualidades do mestre: “Goeldi era um professor completo. O professor que ensina só a técnica é apenas um bom artesão. O bom artista, que é professor, dá um pouco mais do que técnica”, diz.

Estudos na Suíça

Nascido no Rio, Oswaldo Goeldi mudou-se, ainda bebê de colo, para a cidade de Belém, onde o pai viria a morar por vários anos e a construir sua reputação científica. Aos seis anos, Oswaldo foi enviado pelos pais para estudar na Suíça, onde viveu até os 24 anos, quando retornou ao Brasil. Durante a Primeira Guerra Mundial, abandonou a Escola Politécnica de Zurique e ingressou na École des Arts et Métiers.

Em 1917, Goeldi realizou sua primeira exposição individual em Berna e, no mesmo ano, travou contato com a obra do austríaco Alfred Kubin, que viria a se tornar o seu mentor artístico. Também nesta época, tornou-se amigo do artista plástico suíço Hermann Kümmerly, com quem realizou suas primeiras litografias.

Consagração

A volta ao Brasil aconteceu em 1919, e Goeldi começou a viver do que ganhava com seu trabalho como ilustrador. A partir de 1923, passou a dedicar atenção especial à xilogravura, e teve trabalhos publicados em periódicos, revistas e livros. Nesta época, o artista de origem suíça passou a conviver com os maiores expoentes das artes no Brasil. Um fruto dessa relação é o álbum “Dez Gravuras em Madeira”, lançado em 1930 com prefácio escrito pelo poeta Manuel Bandeira.

O grande sucesso do álbum permitiu o retorno de Goeldi à Europa, com exposições realizadas na Suíça e na Alemanha. Sua consagração internacional, no entanto, só viria a acontecer em 1950, quando foi destaque da 25ª Bienal de Veneza. Na Itália, Goeldi recebeu de artistas de diversos países o tratamento de melhor gravurista do mundo. No Brasil, recebeu no ano seguinte o prêmio de melhor gravura da 1ª Bienal Internacional de São Paulo.

Já um artista consagrado, Oswaldo Goeldi deu início ao trabalho como professor, que também viria a se tornar marcante em sua trajetória. As primeiras aulas aconteceram em 1952, e o interesse de Goeldi em ensinar foi tanto que o artista acabou tornando-se professor de xilogravura da Escola Nacional de Belas Artes, onde trabalhou até sua morte.

Maurício Thuswohl, swissinfo, Rio de Janeiro, swissinfo.ch

Oswaldo Goeldi conviveu com os maiores artistas plásticos brasileiros de sua época. Pouco afeito a badalações, gostava mesmo era da companhia de amigos como Iberê Camargo, Carlos Scliar, Hélio Oiticica, Di Cavalcanti e Cândido Portinari, entre outros. Goeldi também cultivava amigos na literatura, como Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz, entre outros.

Impressionada com a obra de Goeldi, a autora de “O Quinze” certa vez escreveu: “Que estranho homem será esse que revolve nossas emoções mais subterrâneas com figuras de pavor, de solidão e tristeza? Que sortilégio especial emana daqueles quadrados escuros saídos da madeira e que nos gritam um apelo tão profundo e dramático, despertando inesperadas ressonâncias?”.

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