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Como o ar condicionado resfria as casas e aquece o planeta

ventole di condizionatori su una facciata di un edificio
Cerca de 10% das residências suíças estão equipadas com sistemas de ar condicionado. Istvan Balogh / Alamy Stock Photo

Ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes têm aumentado o uso de aparelhos de ar-condicionado, mesmo em países com clima temperado como a Suíça. Mas, quanto mais frios os prédios, mais quente o planeta.

Este verão será mais quente do que o normal. Essa foi a previsão feita pelo Departamento Federal de Meteorologia e Climatologia (MeteoSwiss) no final de maio, um mês que bateu recordes de temperatura. Em meados de junho, uma onda de calor atípica atingiu várias regiões da Suíça, com temperaturas chegando a 37 °C ao norte dos Alpes.

Devido às mudanças climáticas, as temperaturas estão subindo em todo o planeta e os eventos que chamamos de “atípicos” estão se tornando a norma. Em muitos lugares da Suíça, o número de dias de verão com temperaturas acima de 25 °C praticamente dobrou desde o início das medições. A mesma tendência tem sido observada nos dias tropicais, quando as temperaturas atingem 30 °C ou mais.

Com a temperatura, a necessidade de resfriar edifícios com aparelhos de ar-condicionado também aumenta, o que leva a um maior consumo de eletricidade e ao aumento das emissões globais de gases de efeito estufa. Um ciclo vicioso que pode ter sérias consequências para o planeta e para a saúde humana.

Dois bilhões de aparelhos de ar-condicionado no mundo

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIELink externo), cerca de dois bilhões de aparelhos de ar-condicionado estão sendo usados ao redor do mundo. A maioria deles pode ser encontrada em edifícios nos Estados Unidos, no Japão e, cada vez mais, na China, onde o crescimento da demanda tem sido mais rápido desde 2010. A demanda também tem aumentado na Índia e na Indonésia.

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Recentemente, um estudoLink externo feito pelo Eurostat, o gabinete de estatísticas da Comissão Europeia, mostrou que a necessidade de resfriar espaços na Europa aumentou nos últimos 40 anos.

Na União Europeia, o valor de “graus-dia de resfriamento”, um índice da demanda energética dos edifícios baseado nas condições climáticas, quase triplicou entre 1979 e 2021. Em outras palavras, o uso de sistemas de ar-condicionado aumentou durante esse período, afirma o Eurostat. Por outro lado, os valores de “graus-dia de aquecimento” diminuíram em 11%.

Um em cada dez lares suíços tem ar-condicionado

As vendas de equipamentos de ar-condicionado também estão em alta na Suíça. Embora não existam estatísticas nacionais que contabilizem todos os dispositivos fixos e móveis, os instaladores e especialistas com quem a SWI swissinfo.ch falou confirmam que o mercado vem crescendo desde o início dos anos 2000.

“O número de pedidos também cresceu devido ao aumento das noites tropicais [noites em que a temperatura mínima não cai abaixo de 20 °C]”, afirma Simone Anelotti, chefe da Neoservice, uma empresa de encanamento, aquecimento e sistemas de ar-condicionado sediada em Lugano, no Ticino. “Para as pessoas que podem ter dificuldade de dormir à noite, o ar-condicionado se tornou uma necessidade.”

Massimo Moretti, que trabalhou por quatro décadas no setor, afirma que os idosos também estão impulsionando parte da demanda, uma vez que nessa faixa etária o calor pode ser mais do que um simples incômodo. De modo geral, diz Moretti, as pessoas reagem instintivamente e só se interessam pelo ar-condicionado quando chega uma onda de calor.

“Dependemos do clima [para trabalhar]”, explica. “No outro dia [20 de junho], estava fazendo 36 °C e eu fui inundado por telefonemas. No dia seguinte choveu e ninguém ligou.”

Durante a primeira onda de calor do ano na Suíça, entre 13 e 19 de junho, as vendas de aparelhos móveis de ar-condicionado e ventiladores dispararam, segundo uma pesquisaLink externo realizada pelo jornal 20Minuten junto às grandes lojas de eletrodomésticos. Um varejista online relatou um aumento de 450% nas vendas.

No entanto, residências com um sistema de ar-condicionado fixo – para o qual é necessária uma permissão – ainda são raras. Marco Von Wyl, diretor da Associação Suíça de Refrigeração SVK, estima que 10% das residências estão equipadas com um sistema de ar-condicionado. Esse número, contudo, não inclui prédios residenciais com uma bomba de calor reversível, que é capaz de resfriar espaços internos durante o verão.

Na Europa, cerca de 20% dos lares têm um aparelho de ar-condicionado. Como era esperado, a porcentagem é maior em países mediterrâneos como a França (25%Link externo) e a Itália, onde um em cada dois lares tem um ar-condicionadoLink externo. Na Alemanha, apenas 1-2%Link externo dos espaços habitacionais possuem um sistema de resfriamento.

Globalmente, o Japão, os EUA e a Coreia do Sul são os campeões do ar-condicionado, com mais de 80% das casas sendo resfriadas artificialmente, segundo dados da AIE de 2018.

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Aparelhos de ar-condicionado são mais poluentes do que aviões

A AIE prevê que, como resultado do aumento do padrão de vida, do crescimento populacional e das ondas de calor mais frequentes e extremas, o número de unidades de ar-condicionado instaladas poderá aumentar em 40% até 2030.

Essa pode ser uma boa notícia para os comerciantes – na Suíça, um ar-condicionado fixo para um quarto custa cerca de CHF 3.000 –, mas é uma má notícia para o meio ambiente. Os aparelhos de ar-condicionado e ventiladores elétricos consomem 10% de toda a eletricidade utilizada no mundoLink externo. Junto aos outros aparelhos da indústria de refrigeração, como geladeiras, eles são responsáveis por cerca de 10% das emissões mundiais de CO2Link externo – muito mais do que a aviação ou o transporte marítimo.

Isso se dá porque esses aparelhos contêm gases refrigerantes que contribuem para o efeito estufa. Os gases mais utilizados atualmente são os hidrofluorcarbonetos (HFCs), que desde o final dos anos 80 têm substituído progressivamente os clorofluorcarbonetos (CFCs) e os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs), os principais contribuintes para a destruição da camada de ozônio.

Mas os HFCs também não são inofensivos. Seu potencial de aquecimento global é até 1.000 vezes maior do que o do CO2. O Acordo de Paris e os tratados internacionais como o Protocolo de Montreal – particularmente a Emenda de Kigali, que a Suíça ratificou – visam uma redução drástica dos HFCs até meados do século.

As alternativas aos HFCs são o CO2, a amônia e o propano, afirma Anelotti, da empresa Neoservice.

“Esses são os gases refrigerantes do futuro”, diz ele. “Mas no momento seu uso ainda é limitado devido ao seu alto custo, periculosidade e menor eficiência.”

Adaptação: Clarice Dominguez
(Edição: Fernando Hirschy)

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