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Estudantes suíços vêm da elite, mas trabalham

Estundantes na Universidade de Zurique. Keystone

Uma comparação da situação social e econômica dos estudantes de 23 países europeus mostra que os acadêmicos suíços pertencem à elite, são poliglotas e muitos deles trabalham paralelamente aos estudos.

Mais da metade dos universitários portugueses domina dois idiomas estrangeiros, mora com a família e depende da ajuda dela para financiar os estudos.

Um total de 182.500 estudantes estão matriculados nas instituições de ensino superior helvéticas para o semestre de inverno 2008/2009. Estima-se que, em 2012, serão 200 mil.

O relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2001 já havia indicado que a Suíça tem um dos sistemas de ensino superior mais seletivos e excludentes entre os países da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Essa contradição de uma sociedade que se define como democrática e aberta é confirmada também pelo estudo Eurostudent III, financiado pela União Européia e pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha.

“A probabilidade de acesso ao ensino superior depende muito do nível de formação dos pais. A população de baixa renda está subrepresentada nas universidades européias”, conclui o estudo. Na Suíça, apenas 11% dos estudantes têm pais sem diploma de nível superior; na França e na Itália esse índice é até três vezes superior.

Acesso restrito



Mesmo assim, a Suíça forma junto com a Holanda, Finlândia, Espanha e Irlanda o grupo de países em que “a participação de estudantes oriundos de famílias distantes do mundo acadêmico é relativamente alta”. Na Alemanha e na Áustria, a situação ainda é pior.

Entre os estudantes suíços, 38% disseram que o pai havia concluído o ginásio ou um curso profissionalizante. Além disso, 51% informaram que ele tinha uma formação de nível superior. Na Alemanha, o percentual de filhos de acadêmicos nas universidades é de 63%.

Dados do Departamento Federal de Estatísticas apontam que somente 9% dos estudantes suíços têm pais que apenas freqüentaram a escola primária.

“Aumentar a igualdade de chances para o acesso ao ensino superior é um desafio central. Essa reivindicação não é nova, mas continua difícil de ser atendida”, constatam os autores do relatório europeu.

Portugueses poliglotas



O “Eurostudent III” revela ainda outros dados interessantes. Assim, 42% dos estudantes suíços disseram que falam bem ou fluentemente dois idiomas estrangeiros. Nos países vizinhos, esse percentual oscilou entre 13% e 23%. Somente Portugal (53%) e Eslovênia (46%) superam a Suíça nesse quesito.

Inglês, francês e alemão são as línguas estrangeiras mais faladas pelos estudantes europeus. Em quatro países (Suécia, Áustria, Holanda e Suíça), mais de 70% disseram ter conhecimentos bons ou muito bons de inglês.

O domínio de um idioma estrangeiro é considerado um fator decisivo para estágios no exterior, mas, na realidade, menos de 10% dos 120 mil estudantes europeus entrevistados já realizaram um período de estudos em outro país.

Maioria trabalha



Estudar na Europa é caro. Os países avaliados gastam, em média, 5.422 euros por estudante/semestre. Em alguns países, como a República Tcheca, a Espanha e a Eslováquia, os estudantes chegam a bancar 80% dos custos, incluindo aí a moradia, responsável pela maior fatia dos gastos de quem não mora com os pais.

Apesar de provirem majoritariamente da elite do país, 39% dos universitários na Suíça disseram que já trabalhavam antes de iniciar seus estudos. Nos países vizinhos, esse percentual é inferior.

Na Suíça, apenas 7% dos gastos que o estudante tem durante sua vida acadêmica são financiados pelo Estado; 48% pela família e 45% são bancado por conta própria, com dinheiro ganho através de “bicos”. Em Portugal, essa relação é de 7%, 72% e 20%; na Espanha de 8%, 40% e 52% respectivamente. Na Suécia, por exemplo, o Estado financia 63% dos gastos dos estudantes.

Quase dois terços dos estudantes suíços têm um emprego pago (em média, trabalham oito horas por semana). Um índice semelhante é registrado na Alemanha, na Espanha e na Irlanda – sete horas de trabalho por semana.

Clube de singles e “hotel mamãe”



“A grande maioria dos estudantes europeus são solteiros”, aponta o estudo. Mesmo assim, os pesquisadores constataram grandes diferenças entre os 23 países. A Itália lidera o ranking dos universitários “singles” (94%), seguida por Portugal (93%), Escócia (93%), Espanha (90%) e Lituânia (84%). A Suíça ocupa o 11° lugar (63%); a República Tcheca aparece em último (35%).

Na Suíça, apenas 3% dos estudantes vivem em moradias estudantis; 58% pagam aluguel, 39% moram com os pais ou parentes. Uma situação semelhante é constatada na Alemanha, na Áustria e na Escandinávia.

No sul da Europa, a maioria dos estudantes vive com os pais, desfrutando do “hotel mamãe”: na Itália 73%, na Espanha 64% e em Portugal 55%.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Mais de 120 mil estudantes de 23 países foram entrevistados de 2005 a 2008 no âmbito da pesquisa “Eurostudent III”, através de uma cooperação científica internacional.

Os dados foram processados e analisados pelo Sistema de Informações do Ensino Superior, ligado à Universidade de Hannover (Alemanha).

Algumas conclusões:

Na maioria dos países, mais de 40% dos estudantes trabalham durante o semestre letivo (na Suíça 63%).

Quanto mais alto o nível de formação dos pais, menos experiência profissional têm os estudantes ao ingressar no ensino superior.

A maioria depende da família e/ou de um emprego em jornada parcial para financiar sua vida de estudante.

A participação do Estado na cobertura desses custos varia de 0% na Eslováquia a 63% na Suécia (na Suíça e em Portugal é de 7%).

O próximo relatório “Eurostudent” está previsto para 2011.

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