The Swiss voice in the world since 1935

Perder a cidadania suíça é mais fácil do que parece

Uma jovem mulher
Olhe para mim: eu sou suíça! Keystone-SDA

A cidadania suíça não é garantida para todos por toda a vida. Muitos suíços no exterior a perderam; muitas vezes sem saber ou devido a regras históricas. Suas histórias mostram o quão comum é a perda da cidadania.

Assine AQUI a nossa newsletter sobre o que a imprensa suíça escreve sobre o Brasil, Portugal e a África lusófona.

“Uma vez suíço, sempre suíço.” Nem sempre! Para muitos, é difícil imaginar, mas a cidadania suíça não é garantida para todos de forma vitalícia. Suíços podem perder a cidadania, voluntariamente ou não, por diversos motivos.
Para muitos suíços no exterior, essa é uma realidade.

Mostrar mais

Perguntamos à nossa comunidade como mantiveram ou perderam a cidadania suíça. Em nosso debate, leitores compartilharam suas histórias, e, nos últimos meses, dezenas de relatos pessoais de todo o mundo foram reunidos.

Perda por casamento com estrangeiro

Muitas mulheres relataram ter perdido o passaporte suíço ao se casarem com um cidadão estrangeiro. Até 1952, vigorava a chamada “regra do casamento”; na época, milhares de suíças perdiam irrevogavelmente a cidadania ao se casarem com um estrangeiro. Entre 1952 e 1992, as suíças precisavam declarar proativamente se desejavam manter a nacionalidade suíça. No entanto, essa obrigação de declaração era desconhecida por muitas suíças no exterior.

“Eu tinha a cidadania suíça, assim como minhas três irmãs. Casei-me com um chileno e a perdi. Sou a única da minha família que a perdeu”, escreve “Carla R.”. A mesma situação ocorreu com a mãe da usuária “Mollysuisse”, que relata: “Minha mãe nasceu nos EUA como filha de dois cidadãos suíços e perdeu sua cidadania em 1991, sem saber, ao se casar com um cidadão americano.” Sua mãe só descobriu a perda da cidadania por volta de 2010, após o prazo de 10 anos para reintegração ter expirado.

Outros tiveram mais sorte e foram informados sobre as regras ou conseguiram recuperar a nacionalidade posteriormente. É o caso da mãe de Lucia Chaves Minnig, na Colômbia: “Minha mãe perdeu a cidadania ao se casar com um colombiano. Muitos anos depois, houve uma anistia, e ela a recuperou. Meus irmãos que desejaram também obtiveram a cidadania.”

A usuária “Bellarivaca” escreve: “Felizmente, uma funcionária da embaixada suíça me avisou que, antes de me casar, eu precisaria declarar que queria manter minha cidadania suíça ao me casar com um estrangeiro.”

Mostrar mais

Nunca tiveram a cidadania suíça

Muitos descendentes, principalmente os da América do Sul, relataram nunca ter tido a cidadania suíça. O motivo foi a falha de seus antepassados em registrá-los no consulado. “Infelizmente, meus ancestrais não registraram seus filhos nos consulados devido às dificuldades da época”, escreve Eduardo Amstalden, do Brasil. Ana Ubelarte, da Argentina, especula sobre as razões: “Talvez por falta de informação, pelas condições difíceis de vida como imigrantes ou pela impossibilidade de percorrer longas distâncias até os centros urbanos na Argentina.”

Alguns suíços no exterior da primeira geração conseguiram recuperar a cidadania posteriormente, mas, para seus filhos ou netos, já era tarde demais: “Quando a cidadania do meu pai foi confirmada, as autoridades suíças estenderam-na à minha mãe, mas negaram a mim e aos meus irmãos, pois já éramos adultos”, escreve Freddy, de Lima, no Peru.

Mostrar mais

Debate
Moderador: Melanie Eichenberger

Como você obteve ou perdeu a cidadania suíça?

E que impacto isso teve em sua vida? Conte-nos sua história.

135 Curtidas
161 Comentários
Visualizar a discussão

Perda por razões históricas

Quem emigrou por volta de 1900 para um país que não permitia dupla cidadania teve que renunciar à nacionalidade suíça. Esse foi o caso dos ancestrais de João Gabriel Schelck, do Brasil: “Minha família perdeu a cidadania suíça quando meu bisavô emigrou da Suíça para o Brasil. O acordo foi feito com o rei Dom João VI, que precisava de mão de obra e fez um contrato com dezenas de suíços. Uma das condições era renunciar à cidadania suíça e se tornar cidadão brasileiro.” Na época, o Brasil era um reino de Portugal.

Sem passaporte, sem raízes

O que todas essas histórias têm em comum é o impacto emocional da perda ou da falta da cidadania. Não se trata apenas de um status formal – para muitos, significa uma ruptura com suas raízes e uma profunda injustiça. “Eu, que tenho sangue suíço pela metade, sou tratado como um completo estranho. Isso é muito triste, pois tenho orgulho da minha origem e das minhas raízes, e sempre tento representar a cultura paterna da melhor forma possível”, escreve “swissjav”, da Argentina.

Karen Kuffer também comenta: “A cidadania não é apenas um documento, é muito mais do que isso.” Ela representa o reconhecimento de pertencimento a uma comunidade política, com direitos e deveres. A conexão emocional e cultural que muitos descendentes sentem não pode ser substituída por um certificado de herança.

Acusações de interesse no sistema social

A acusação de que os descendentes buscam apenas se beneficiar do sistema social suíço é veementemente rejeitada na discussão. “A afirmação de que nosso interesse em manter a cidadania é motivado por razões materiais é um julgamento preconceituoso e insultuoso”, escreve o usuário “descendientesuizos”.

Ana Uebelhart, bisneta de imigrantes suíços na Argentina, escreve do Canadá: “Não sou movida por interesses econômicos ou vantagens; quero apenas o reconhecimento da nacionalidade que me é devida por direito.” Silvana Thalmann, da Argentina, rebate: “Como neta de um cidadão suíço, não busco vantagens. Sou uma profissional bem formada, educada e qualificada.”

Em um mundo cada vez mais conectado, o “ius sanguinis”, ou a transmissão da cidadania por descendência, não é uma ferramenta de exploração, mas uma ponte que une gerações e culturas, argumenta Karen Kuffer. “Nós, descendentes de suíços na América do Sul, não pedimos privilégios. Pedimos o reconhecimento de um direito que nos é devido por herança, mas também pelo amor e dedicação à nossa identidade suíça”, escreve ela.

As demandas dos descendentes de suíços fora da Europa não passaram despercebidas na política suíça. No verão passado, descendentes de suíços no exterior entregaram uma petição à Chancelaria Federal.

Mostrar mais
Grupo de pessoas segurando bandeiras suíças

Mostrar mais

Descendentes de emigrantes exigem passaporte suíço

Este conteúdo foi publicado em Milhares de descendentes de suíços no exterior perderam a cidadania por falhas de registro e regras rígidas. Agora, uma petição pede justiça: direito à cidadania para até a 5ª geração. Identidade não se perde no correio.

ler mais Descendentes de emigrantes exigem passaporte suíço

Na próxima sessão parlamentar, será debatida uma moção que propõe a criação de um contingente especialLink externo de residência para descendentes de suíços sem passaporte, permitindo que trabalhem na Suíça e contribuam para a economia do país.

A última palavra sobre a transmissão da cidadania suíça ainda não foi dada.

Adaptação: DvSperling

Mostrar mais

Como se tornar suíço

Aqui apresentamos todos os passos necessários à obtenção do passaporte vermelho com a cruz branca.

ler mais Como se tornar suíço

Os mais lidos
Suíços do estrangeiro

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR