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Alexandre de Moraes enfrenta ‘ameaças’ dos Estados Unidos

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou nesta sexta-feira (1º) que vai “ignorar” as sanções dos Estados Unidos, e que a Justiça brasileira não se dobrará diante de “ameaças”.

O governo americano impôs na última quarta-feira sanções econômicas a Moraes, que acusa de uma “caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas americanas e brasileiras”.

Após essas medidas e o aumento de tarifas sobre exportações brasileiras, Moraes se pronunciou, durante sessão no plenário do STF.

Em tom duro, durante um discurso transmitido ao vivo na televisão e na internet, o ministro disse que vai “ignorar as sanções” e “continuar trabalhando”.

“Faço questão de dizer: não só esta Corte, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal não se vergarão a essas ameaças”, acrescentou.

Moraes, de quem os Estados Unidos já haviam revogado o visto, foi alvo de sanções financeiras pessoais sob a Lei Magnitsky, um instrumento para punir pessoas acusadas de violações dos direitos humanos no mundo.

Segundo a Casa Branca, Moraes “abusou de sua autoridade judicial para ameaçar, assinalar e intimidar milhares de seus oponentes políticos”, em coordenação com outros ministros do STF.

– ‘Defesa da soberania’ –

As sanções contra Moraes abrangem o bloqueio de todos os seus eventuais bens nos Estados Unidos e a proibição de cidadãos e empresas americanas de realizarem negócios com ele. Uma fonte judicial brasileira disse, no entanto, à AFP que o juiz não possui bens no país.

“O Supremo Tribunal Federal sempre será absolutamente inflexível na defesa da soberania nacional e em seu compromisso com a democracia”, enfatizou Moraes nesta sexta.

Ele também denunciou os brasileiros que agiram “de maneira covarde e traiçoeira com a finalidade de tentar submeter o funcionamento deste Supremo Tribunal Federal ao crivo de um Estado estrangeiro”.

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que está morando nos Estados Unidos, tem feito lobby junto ao governo Trump na defesa de seu pai e contra o Executivo e o Judiciário brasileiros.

Moraes abriu recentemente uma investigação contra Jair e Eduardo Bolsonaro por suposta “obstrução” ao processo contra o ex-presidente, ao promover “atos hostis” contra o Brasil.

O ex-chefe de Estado (2019-2022) foi ordenado a usar uma tornozeleira eletrônica, além de proibido de usar redes sociais, entre outras medidas.

Além das sanções contra Moraes, Trump impôs tarifas de 50% a setores importantes das exportações brasileiras, uma decisão classificada de “chantagem inaceitável” pelo governo brasileiro.

– ‘Abertos ao diálogo’ –

Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não conversaram desde o início da crise diplomática e comercial.

Perguntado nesta sexta sobre a possibilidade de atender a um telefonema de Lula, o presidente americano respondeu: “Ele pode falar comigo quando quiser. Veremos o que acontece, mas amo o povo do Brasil.”

Contudo, acrescentou que “as pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada”, sem citar Bolsonaro.

Lula, por sua vez, afirmou que “sempre estivemos abertos ao diálogo” e acrescentou que trabalha para “dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano”, em mensagem na rede X.

Nesta sexta-feira, houve protestos em frente à embaixada dos Estados Unidos em Brasília e ao consulado em São Paulo, onde manifestantes queimaram um retrato de Trump com chifres de diabo. “A soberania não se negocia”, dizia uma faixa pintada de verde e amarelo.

Para Moraes, Eduardo Bolsonaro assumiu uma “intermediação com o governo estrangeiro” que levou à “imposição de medidas econômicas contra o próprio país”.

Segundo o juiz, a intenção do deputado é “gerar uma grave crise econômica” e facilitar “um novo ataque golpista”.

Jair Bolsonaro é acusado no STF de conspirar para permanecer no poder apesar do resultado das eleições de 2022, vencidas por Lula.

“Ainda esse semestre, nós julgaremos todos os responsáveis, […] exercendo a nossa função judicial e não nos acovardando em virtude de ameaças, seja daqui ou de qualquer outro lugar”, prometeu Moraes.

Se condenado, Bolsonaro pode receber uma pena de cerca de 40 anos de prisão.

rsr/ad/jss/ad/ag/ic/am-lb/rpr

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