Colômbia pede diálogo com ‘todos os setores’ após protestos na Colômbia

O governo colombiano pediu, nesta quinta-feira (6), um diálogo entre “aqueles que marcham” e “aqueles que não marcham” nos violentos protestos contra o presidente Iván Duque, que deixaram 24 mortos em nove dias.
“Devemos ouvir todos os setores do país, mas o país também deve ouvir o governo (…) Isso inclui quem marcha, mas também quem não marcha”, disse o conselheiro presidencial Miguel Ceballos, mediador do governo junto aos manifestantes.
Ceballos também convidou os membros do Comitê de Greve a se reunirem pessoalmente “com o presidente e a vice-presidente” do país, segundo mensagem no Twitter.
Sindicatos, estudantes, indígenas, ambientalistas e artistas, que fazem parte do comitê, aceitaram a proposta, mas com condições.
Em um vídeo enviado à imprensa, Francisco Maltés, presidente da Central Unitária de Trabalhadores, anunciou que as conversas começarão “após a desmilitarização de campos e cidades onde foram massacrados jovens protestando pacificamente”.
Os líderes dos protestos vão sentar à mesa com várias reivindicações: melhoria das condições de trabalho, sistema previdenciário, segurança, saúde, o cessar de assassinatos de defensores dos direitos humanos e agilidade na implementação do acordo de paz firmado em 2016 com a guerrilha das FARC.
Enquanto isso “continuaremos a greve nacional”, advertiu o sindicalista.
– Negociações –
As conversas começaram na quarta-feira com a liderança do conselheiro e a participação do Ministério Público, Defensoria do Povo e sindicatos econômicos.
Na agenda inicial, o comitê de greve estava marcado para segunda-feira. À tarde, o governo disse que estava disposto a se reunir com os manifestantes “imediatamente”.
“A vontade do governo era convidar primeiro aqueles que organizam o Comitê Nacional de Greve, mas entendendo que essas mobilizações não se limitam a esse grupo”, acrescentou Ceballos.
Para Sandra Borda, professora de ciência política da Universidade dos Andes, se a negociação for mantida nos termos atuais “fracassará estrondosamente”.
“Eles estão reunidos com as mesmas pessoas com que sempre se reuniram”, é “uma conversa deles com eles mesmos”, disse à AFP a professora.
Com popularidade em declínio (33%), o presidente Duque enfrenta uma das maiores mobilizações contra ele, desta vez alimentada pela crise econômica gerada pela crise na saúde.
– Protestos se atenuam –
As manifestações foram em sua maioria pacíficas e festivas. Em algumas cidades, houve tumultos e confrontos com a força pública, que deixaram 26 mortos e mais de 800 feridos, segundo um novo balanço.
Nesta quinta-feira, os protestos se atenuaram em todo o país. No centro de Bogotá centenas de pessoas se reuniram com tochas, velas e gritando frases como “a greve continua”. Em Medellín (noroeste), cerca de 200 mulheres se manifestaram com músicas e danças.
Em Pereira (Risaralda, centro-oeste), centenas de pessoas prestaram uma homenagem silenciosa a três jovens manifestantes baleados no dia anterior, um deles com diagnóstico de morte encefálica.
Para a prefeita de Bogotá, Claudia López, “a solução política está nas mãos do governo nacional”.
“Com quem há de se conversar é com quem está nas ruas, que são os jovens”, declarou López da capital, um dos focos das manifestações.
A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e organizações de direitos humanos se posicionaram contra os abusos da polícia durante as manifestações e fizeram um apelo à calma.
O Ministério da Defesa enviou 47.500 soldados a todo o território durante as manifestações.
Durante uma coletiva de imprensa virtual para jornalistas em Washington nesta quinta-feira, o ministro da Defesa, Diego Molano, atribuiu o “vandalismo” nas ruas aos dissidentes das Farc, que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016, e do ELN, última guerrilha reconhecida na Colômbia.
“Se houve uso excessivo da força, que haja responsabilização”, argumentou o ministro do Interior, Daniel Palacios, durante a coletiva virtual.
O mal-estar parece ter se instalado em um dos países mais desiguais do continente, com uma taxa de desemprego de 16,8% e cuja pobreza atinge 42,5% da população.