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A presença brasileira e portuguesa em Locarno

"Os famosos e os duendes da Morte", de Esmir Filho. cortesia

Os holofotes do Festival Internacional de Cinema de Locarno estão voltados em 2009 para o cinema asiático e europeu. Porém, três filmes lusófonos disputam o Leopardo de ouro na competição internacional e na mostra de cineastas do presente.

Uma das obras é Os famosos e os duendes da morte, do cineasta Esmir Filho, também conhecido no Brasil pelo curta Tapa na Pantera, já visto por mais de 10 milhões de internautas.

“Eu fumo há trinta anos todos os dias”, ressalta a atriz brasileira Maria Alice Vergueiro, ao falar da maconha em um curta-metragem que se transformou em um verdadeiro fenômeno na internet em 2006. Um dos co-autores é o jovem cineasta brasileiro Esmir Filho, graduado em cinema pela Faap dois anos antes. Outro dos seus curtas, “Vibracall” (2006), também teve impacto ao contar a história de duas universitárias e seu vibrador-celular.

Depois de outros trabalhos premiados em festivais no Brasil ou no exterior – melhor roteiro em Cannes (2006) e de melhor filme nos festivais de cinema de Kiev (Ucrânia) e Biarritz (França) – Esmir retorna à Europa para apresentar seu primeiro longa-metragem na principal mostra competitiva do Festival Internacional de Cinema de Locarno.

Intitulado “Os famosos e os duendes da morte”, o filme foi baseado em um livro do escritor gaúcho Ismael Caneppele. Ele conta a história de um adolescente e a sua vida em uma pacata cidade de colonização alemã no interior do Rio Grande do Sul. O tédio e a vontade de partir são acompanhados pelos fantasmas imaginários de uma menina da comunidade que havia se suicidado, deixando suas lembranças na internet.

O maior desejo do jovem é partir. A desculpa é o próximo concerto de Bob Dylan, cuja música faz a trilha sonora em cenas de grande melancolia sob a neblina das serras gaúchas. Em um dos diálogos com a menina dos seus sonhos, ele digita uma frase no computador durante um chat, que dá o tom a “Os famosos e os duendes da morte”: “Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade…”

Em entrevista à imprensa brasileira, Emir explica o objetivo do filme. “Ele retrata a geração adolescente de hoje, que vive através dos pixels e discute o que é real e o que é virtual. Ou o quão real é expor sua vida na internet e o quão imaginário é viver na realidade”. O resultado é uma obra universal, levantando questões existenciais confrontadas por jovens na atualidade, não importando se vivem no interior do Brasil, em conjuntos habitacionais de Berlim ou nos subúrbios de Los Angeles.

Mulheres em fuga

Mais introspectivo e não menos melancólico é o longa-metragem dos diretores cariocas Felipe Bragança e Marina Meliande. Com o gigantesco título “A fuga, a raiva, a dança, a bunda, a boca, a calma, a vida, a fuga da mulher gorila”, mas abreviado graças ao título em inglês para “A fuga da mulher gorila”, a obra é a única do mundo lusófono a participar da mostra competitiva Cineastas do Presente em Locarno.

Estrelado pelas artistas Flora Dias e Morena Cattoni, o filme conta a história de duas jovens e seu espetáculo mambembe transportado em uma Kombi através do Estado do Rio de Janeiro. Nele, uma mulher se transforma em gorila e abre a jaula com violência, assustando o público. As duas parceiras dialogam em forma de música, sem esconder seus conflitos e medos. Aos poucos, o espectador descobre os motivos da fuga, como o filho recém-nascido e marido abandonados por uma das protagonistas, e as frustrações amorosas e artísticas da outra.

“A fuga da mulher gorila” foi rodado em suporte digital com um custo baixíssimo. No início do ano ganhou o principal prêmio na 12° Mostra de Tiradentes (Minas Gerais). Segundo os autores, o filme é o primeiro de uma trilogia.

Lisboa e fado

“A Religiosa Portuguesa” é o mais recente filme e primeiro longa-metragem em português realizado pelo diretor, teatrólogo e escritor franco-americano Eugène Green, cujo vasto currículo conta com outros seis longas. Ele também é conhecido por ter fundado em Paris nos anos 1970 o Teatro da Sapiência, uma companhia dramática voltada para a missão de reencontrar a modernidade do teatro barroco.

Em 2009, Eugène apresenta seu filme na mostra internacional competitiva em Locarno, onde já esteve presente em outras edições do festival. Dessa vez, ele conta a história de Julie de Hauranne, uma jovem atriz francesa de ascendência portuguesa. Ela vem à Lisboa pela primeira vez para rodar um filme baseado nas “Lettres Portugaises” (Cartas portuguesas), do escritor francês Gabriel Guilleragues.

“O filme retrata a descoberta da cidade de Lisboa por parte da protagonista, que começa a sentir uma enorme fixação por uma freira que vai rezar todas as noites na capela de Nossa Senhora do Monte, na colina da Graça”, revela Luís Urbano, da produtora Som e a Fúria.

Como não poderia deixar de ser, o charme de Lisboa se infiltra na obra do franco-americano. Não apenas a personagem Julie de Hauranne desvenda a capital portuguesa para recuperar suas origens, mas também os fadistas Camané e Aldina Duarte, uma participação especial no longa-metragem, dão a necessária atmosfera ao filme através da sua música.

Outra obra lusófona que participa do Festival de Locarno é o curta “Mira”, do cineasta Gregório Graziosi, presente ano passado através do curta “Saltos”. O documentário “Terras”, da diretora carioca Maya Da-Rin mostra na seção “Iciu & Ailleurs” a vida nas duas cidades fronteiriças Letícia (Colômbia) e Tabatinga (Brasil), onde também são exibidos os curtas “Cordão Verde”, do diretor japonês Hiroatsu Suzuki e a atriz portuguesa Rossana Torres, e “Notas Flanantes”, da diretora brasileira Clarissa Campolina.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

A 62° edição do Festival Internacional do Cinema de Locarno ocorre de 5 a 15 de agosto.

20 filmes sâo exibidos na mostra não competitiva da Piazza Grande

18 filmes concorrem ao prêmio de melhor filme internacional

17 filmes participam da mostra competitiva “Cineastas do presente”

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