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Credit Suisse estimulou vendas de software hacker condenado pelos EUA

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Em novembro de 2021, os Estados Unidos colocaram a NSO em uma lista de abuso da arma cibernética Pegasus por seus clientes. Keystone / Atef Safadi

O Credit Suisse pressionou a NSO Group a continuar vendendo seu spyware Pegasus para novos clientes mesmo depois dos EUA incluírem o fabricante israelense na lista negra de armas cibernéticas, sob o argumento de que regimes autoritários usam suas ferramentas para silenciar opositores.

O pedido foi feito através de uma carta enviada em dezembro e assinada por advogados que representam o banco suíço e alguns de seus colegas credores da empresa NSO, incluindo o fundo de hedge Senator, bem como o banco de investimento americano Jefferies, na qualidade de supervisor de empréstimo à NSO.

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FT

O apelo foi feito depois da publicação das denúncias contra o Pegasus que revelaram como a ferramenta de espionagem foi usada para hackear telefones de jornalistas, ativistas e até mesmo da ex-mulher do governante bilionário de Dubai, o  que mergulhou a NSO em uma turbulência financeira.

A pressão feita pelo Credit Suisse lança uma nova luz sobre a abordagem adotada por alguns bancos e empresas de Wall Street que financiam o fabricante isaelense com histórico de violações de direitos humanos. Os EUA incluíram a NSO na lista negra em novembro devido aos abusos cometidos através da poderosa arma cibernética Pegasus, desenvolvida pela empresa.

Sem novos clientes

Na época do pedido do Credit Suisse e de outros credores, a NSO havia passado meses sem conquistar um novo cliente e havia emprestado US$ 10 milhões (CHF 9,7 milhões) para pagar sua folha de pagamento de outubro.

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“Os credores entendem e apoiam a necessidade de cautela, dada a atenção global e o maior escrutínio focado na empresa”, disseram eles em uma carta de 10 de dezembro de 2021 ao Berkeley Research Group (BRG), uma consultoria que foi nomeada para gerenciar um fundo de aquisição de 70 % da NSO.

Mas os credores acrescentaram que estavam “preocupados” com uma alegação da NSO de que o Berkley Research Group estava impedindo a empresa “de buscar e obter novos clientes”.

Isso “aprofundou a atual crise de liquidez da empresa”, acrescentaram, e a NSO “deve ser capaz de conduzir suas operações normais, com a devida supervisão, durante este período crítico”.

A carta, que consta em um processo judicial em Israel – e  foi acessada pelo Financial Times – não nomeou os credores, mas duas pessoas com conhecimento do assunto disseram que o Credit Suisse e o Senator estavam no grupo de credores que remeteram o texto à empresa.

A carta veio da Willkie Farr & Gallagher, que disse que representa os credores que têm mais de 75% dos empréstimos pendentes da NSO Group sob um acordo assinado em 2019.

‘Profundamente preocupante’

A consultoria BRG respondeu aos credores, dizendo que era “profundamente preocupante” que eles estivessem buscando fazer pressão para aumentar as vendas do Pegasus.

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A equipe de gerenciamento da NSO decidiu que desde a publicação do Projeto Pegasus por um consórcio de jornalistas em julho, “as únicas novas restrições de clientes em potencial para o sistema de software Pegasus seriam de clientes de risco elevado”.

A BRG, ao contrário, apontou que “em nenhuma circunstância” estava preparada para aprovar essas vendas. Em vez disso, disse, o fabricante do spyware deveria “resolver os problemas subjacentes” que levaram os EUA a colocá-lo na lista negra.

Credit Suisse, Jefferies, Senator e BRG não quiseram comentar. Willkie Farr não respondeu aos pedidos de comentários.

A NSO disse que a “disputa comercial legal não envolve a NSO, pois a dívida em questão não é da NSO” e que continua “a gerar novos negócios” após realizar “um rigoroso processo de due diligence e encerrar 10 clientes nos últimos anos com base em alegações credíveis ou verificação de abuso”. Uma pessoa próxima à empresa disse que a alegação de que as perspectivas de negócios da NSO dependiam da venda para clientes de alto risco era falsa.

Vários escândalos

O caso do Pegasus é apenas um de uma série de controvérsias envolvendo o Credit Suisse, um banco já atormentado por vários escândalos, como o colapso da Archegos e Greensill Capital e a saga do “spygate” envolvendo a vigilância corporativa de funcionários.

O Pegasus funciona espelhando o conteúdo de um telefone, incluindo mensagens criptografadas, e pode gravar vídeo e áudio clandestinamente. O governo da Espanha disse no mês passado que o Pegasus foi usado para hackear os telefones de seu primeiro-ministro e do ministro da Defesa.

A BRG disse anteriormente que a NSO estava “sem valor” para seus financiadores de private equity, indicando que seus credores poderiam estar em posição de assumir o controle da empresa se quisessem.

Credit Suisse e Jefferies atuaram como bookrunners para levantar meio bilhão de dólares em financiamento de dívida para a compra do capital privado do grupo de spyware em 2019.

Estar na lista negra americana significa que a NSO não pode comprar equipamentos ou serviços de empresas americanas sem aprovação. A empresa está enfrentando ações judiciais da Apple, que está buscando uma ordem que impeça a NSO de usar seus produtos, e da Meta, que diz que a NSO explorou uma vulnerabilidade do WhatsApp para construir seu spyware.

A BRG foi encarregada no ano passado de administrar o fundo de private equity de € 1 bilhão que detém a participação da NSO depois que seus gerentes anteriores, um trio de ex-executivos da TPG que fundaram a Novalpina Capital, foram expulsos por seus próprios investidores.

Copyright The Financial Times Limited 2022

Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)

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