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Grandes comerciantes de soja buscam estratégias para combater desmatamento no Brasil

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O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, depois dos EUA. Keystone / Andre Penner

Seis das maiores empresas que comercializam commodities no mundo se comprometeram a apoiar fornecedores indiretos que produzam soja de forma sustentável na região do Cerrado brasileiro.

Em 21 de junho, Viterra (antiga Glencore Agriculture), Bunge, ADM, Cargill, LDC e COFCO anunciaram que querem contratar 19 fornecedores indiretos que trabalhem com produção de soja sustentável no Cerrado brasileiro – como parte da parceria conjunta chamada Soft Commodities ForumLink externo (SCF). Todas as companhias que integram o acordo, exceto Viterra, têm uma presença significativa na Suíça – com a sede principal, a sede europeia ou filiais estabelecidas no país alpino.

Com o auxílio da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (ABIOVE), as empresas desenvolveram uma metodologia comum para selecionar fornecedores de grãos que não compactuam com o desmatamento do bioma brasileiro. Com a iniciativa,  espera-se que metade dos fornecedores indiretos pré-selecionados estejam integrados ao projeto comercial até o final do ano.

“Esta iniciativa conjunta do SCF e da ABIOVE foi projetada para enviar um forte sinal de mercado aos produtores. O objetivo é passar a mensagem de que os membros do SCF querem fazer negócios com intermediários que estejam alinhados com os objetivos do SCF e sejam capazes de rastrear suas cadeias produtivas para garantir que suas lavouras sejam livres de desmatamento e conversão de vegetação”, aponta o comunicado do consórcio.

Uma análise do fornecimento de commodities publicada na Science AdvancesLink externo em abril estimou que o fornecimento indireto representa algo entre 12% e 42% de toda a soja rastreável proveniente da América do Sul. Pesquisadores na Suíça apontam que os fornecedores indiretos são o elo fraco na cadeia de suprimentos das comerciantes de commodities quando se trata de desmatamento.

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A ausência de informações e dados de rastreio dos fornecedores indiretos está causando um desmatamento “oculto” no Cerrado brasileiro – bioma savânico que sofre com altas taxas de desmatamento e conversão de vegetação. O Cerrado ocupa pouco mais de 20% da área terrestre do Brasil e é o segundo maior bioma da América do Sul depois da Amazônia, abrigando cerca de 4.800 espécies de plantas e vertebrados únicos no mundo. A região concentra metade de toda a soja cultivada no Brasil, que é o segundo maior produtor mundial de grãos depois dos EUA.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora o Cerrado há duas décadas, alertou recentemente para a maior taxa de desmatamento desde 2015. Entre agosto de 2020 a julho de 2021, o Cerrado perdeu 8.531 quilômetros quadrados de vegetação nativa, área equivalente ao tamanho da Grande Tóquio.

Ponto cego

Os fornecedores indiretos (também conhecidos como fornecedores de nível 2) são intermediários que reúnem commodities de diferentes fontes. Eles fornecem os grãos para os fornecedores diretos (ou de nível 1) de quem as grandes comerciantes de commodities compram soja. Embora as multinacionais que comercializam commodities tenham melhorado suas estratégias para rastrear de onde vêm a soja de seus fornecedores diretos (para evitar a comercialização de soja proveniente do desmatamento), as companhias raramente têm informações sobre a origem dos grãos de seus fornecedores indiretos.

De acordo com Lucie Smith, gerente sênior da SCF, parte da relutância por parte dos fornecedores indiretos em serem mais transparentes pode ser atribuída à falta de conhecimento ou capacidade, bem como aos custos associados à implementação de sistemas de rastreabilidade e monitoramento de seus próprios fornecedores. Além disso, esses intermediários também se preocupam em perder vantagem competitiva ou gerar desconfiança entre seus fornecedores ao compartilhar informações para fins de auditoria e compliance.

Assim, os esforços pioneiros de rastreabilidade dos membros do SCF na região se concentraram principalmente nos fornecedores diretos em municípios ambientalmente mais ameaçados do Cerrado. Com essa medida, todas as seis empresas conseguiram atingir a meta estabelecida em 2018 de rastrear pelo menos 95% de sua soja de 61 municípios do Cerrado – monitorando as fazendas foi cultivada a soja comprada diretamente.

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A iniciativa de rastreabilidade começou com 25 municípios e agora se expandiu para 61 nos estados do Tocantins, Piauí, Maranhão, Mato Grosso, Bahia, Goiás e Minas Gerais. Soft Commodities Forum

Mas, por outro lado, considerando os fornecedores indiretos, a proporção de soja que pode ser verificada como livre de desmatamento variou de 64% a 92%. No geral, pode-se perceber que quanto mais uma empresa depende de fornecedores indiretos, menores são suas chances de garantir parâmetros de sustentabilidade na origem da soja.

Conteúdo externo

Para solucionar o problema, as seis empresas de comércio identificaram 19 fornecedores indiretos na região com os quais têm mais relação. Esses fornecedores receberão recursos e apoio para montar um sistema de monitoramento e rastreabilidade que determine de onde vem sua produção e se ela está ligada ao desmatamento.

É improvável que a iniciativa seja expandida para além do Cerrado, a menos que as seis empresas de commodities decidam ampliar o escopo do próprio SCF. No entanto, de acordo com Smith, algumas empresas estão usando as lições aprendidas no Cerrado para melhorar a rastreabilidade de suas cadeias de suprimento individual.

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Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)


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