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Porquê a Embraer deu certo

O E-170 da Embraer com as cores da Swiss . (Divulgação) Martedì la compagnia presenta i nuovi velivoli Embraer 170. Ma problemi di gestione non sono risolti (foto: swiss.com)

Em entrevista exclusiva a swissinfo, um dos vice presidentes da Embraer, Horacio Forjaz, explica o sucesso da empresa e afirma que é preciso investir em Educação e pesquisa e ter visão a longo prazo.

Swissinfo: Que importância teve para o contrato de 1999 com a Crossair no desenvolvimento dessa nova família de jatos E-170 e E-190?

Horacio Forjaz:

Foi determinante porque foi o cliente lançador dessa nova família de jatos. Nesse curto espaço de tempo, o E-170 foi desenvolvido e começará a ser entregue à “swiss” no ano que vem. Do E-170 ao E-190 serão investidos 850 milhões de dólares, em parceria com 16 indústrias aeroespaciais de renome mundial.

Swissinfo: Como a Embraer consegue expandir seus negócios num mercado em crise como o da aviação comercial?

HF:

Primeiramente, a indústria do transporte aéreo regional, segmento mais recente que data dos anos 70, em sua versão mais moderna, é o mais pujante da aviação. Ele vem crescendo quase o dobro da aviação de primeiro nível, baseado em modelos econômico-financeiros bem sucedidos, de alta produtividade e baixos custos. A Embraer se beneficia disso porque tem conseguido desenvolver e produzir produtos de grande aceitação no único segmento do transporte aéreo que tem dado certo nos últimos 20 anos. Isso explica o sucesso da Embraer.

Swissinfo: a atual crise do sistema financeiro pode afetar a Embraer?

HF:

A Embraer acumulou nos últimos 5 ou 6 anos uma posição financeira muito sólida. Isso lhe permitiu atravessar momentos díficeis como logo depois dos atentados nos EUA com uma certa segurança. Nós apoiamos clientes, empresas aéreas que se encontraram momentaneamente fragilizadas, fomos capazes de absorver materias e equipamentos que já haviam sido encomendados e hoje estamos novamente numa posição de caixa refeito e de estoques otimizados. É essa solidez financeira que permitiu e permitará atravessar esse período relativamente turbolento sem grandes problemas. Essa situação também nos permite de acesso a créditos a taxas mais favoráveis do seus eventuais concorrentes.

Swissinfo: o Brasil é conhecido como exportador de produtos primários. A Embraer está mudando essa imagem ao exportar produtos de alta tecnologia. Isso acarreta uma responsabilidade maior da empresa?

HF:

Eu acho que a experiência brasileira no setor aeronáutico é única no mundo. 50 anos atrás não havia nenhuma indústria de grande porte no Brasil. Nesse época, oficiais do antigo Ministério da Aeronáutica conceberam uma estratégia baseada na criação do ITA (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica), uma escola de engenheiros de altíssima qualidade. Na época não sequer estrada asfaltada entre São Paulo e São José dos Campos. O ITA formou então levas de engelheiros altamente qualificados. A estratégia incluia um instituto de pesquisa e finalmente uma indústria, nos anos 70. Tudo isso encerra uma grande lição, a de que um país dito emergente tem potencial para competir em condições de igualdade com países do primeiro mundo, desde que lhe sejam proporcionadas oportunidades para tanto. Na verdade, a história da Embraer está demonstrando para o país Brasil, para o nosso povo, que nós temos condições de competir na arena mais competitiva e mais complicada do comércio internacional, que são produtos de altíssima qualidade e sofisticada tecnologia. E é claro que isso nos dá uma certa responsabilidade.

Swissinfo: Por quê não existem empresas como a Embraer em outros setores no Brasil?

HF:

É difícil explicar. São necessárias várias condicionantes para que se germine uma iniciativa como a da Embraer. É preciso que nossos governantes tenham visão mas também ousadia para investir em algo que só proporciona retornos a longo prazo. Em 50 anos, o Brasil é hoje a quarta maior potência mundial produtora de aviões comerciais graças à ousadia e à coragem de decisões tomadas no final dos anos 40. Essas qualidades infelizmente não estão disponíveis o tempo todo.

swissinfo/Claudinê Gonçalves

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