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Escola Kern comemora dez anos e ainda busca apoio

Aprendizagem no curso de torneiro mecânico na escola de Robert Kern swissinfo.ch

Um clima de muita emoção marcou a comemoração pelos dez anos do projeto de formação profissional de jovens criado e dirigido pelo suíço Robert Kern em Rio das Ostras, a 170 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.

Em uma cerimônia que contou com a presença de diversas famílias da região, Kern recebeu manifestações de gratidão, pois foi o responsável pela formação e o encaminhamento profissional de muitos jovens.

Além do décimo aniversário da Associação Escola Robert Kern, foi comemorada também a inauguração de um terceiro galpão no terreno da escola. O novo galpão será a oficina de mais um curso idealizado pelo suíço – o de caldeireiro – que se juntará aos cursos de soldador e de torneiro mecânico, já ministrados pela escola, e oferecerá ainda mais oportunidades de formação profissional.

Os números falam por si. Os quatro cursos ministrados pela Escola Kern oferecem uma média de 60 vagas para aprendiz de soldador e 48 vagas para aprendiz de torneiro mecânico a cada ano. Primeiro a ser iniciado, ainda em 1999, o curso de soldador oferecido pelo suíço já formou cerca de 370 jovens. Criado em 2002, o curso de torneiro mecânico já ensinou uma profissão a cerca de 150 jovens. Todos os cursos são completamente gratuitos.

Falta de apoio regional

Apesar da inegável importância social da escola, a comemoração teve também um lado triste, causado pela constatação de que as autoridades do poder público no município de Rio das Ostras ou no Estado do Rio de Janeiro simplesmente ignoraram a existência de Robert Kern nestes dez anos.

Mulher de Kern, além de seu braço-direito na escola, a brasileira Carmem foi às lágrimas ao afirmar: “Estou muito triste por não poder agradecer ao meu país por apoiar esse projeto”, sintetizando a indignação de todos os presentes.

Atualmente, todo o custeio dos cursos oferecidos pela Associação Escola Robert Kern, assim como das máquinas utilizadas, é financiado por doações periódicas vindas da sociedade civil e de diversas instituições privadas da Suíça. Pelo menos uma vez por ano, Kern, que no início bancava tudo do próprio bolso, vai à Suíça para agradecer e prestar contas aos diversos parceiros.

Representando estes parceiros, Nicole Miescher, da fundação suíça Ameropa, esteve presente na cerimônia em homenagem a Kern em Rio das Ostras: “Robert e Carmem colocaram sua força de trabalho em benefício de outras pessoas, fazendo assim o sonho de muita gente tornar-se realidade”, disse.

Gratidão

O agradecimento público de alguns dos presentes confirmou as palavras de Nicole: “Cheguei aqui sem experiência nenhuma na área. O Robert me ofereceu o curso de torneiro mecânico e, depois que eu o completei, fiz também o curso de solda. Hoje, só tenho a agradecer a ele pela oportunidade que ele me deu”, falou Ronielson Jardina, que hoje em dia é instrutor de solda e ajuda a formar novos soldadores na Escola Kern.

Também ex-aluno e atual instrutor da Escola Kern, Rodrigo Andrade deu um depoimento emocionado: “Quando minha esposa engravidou, eu senti a necessidade de adquirir uma profissão. Conversei com Dona Carmem e ela me deu essa oportunidade. Hoje, sou um trabalhador qualificado, um escalador industrial, e trabalho numa grande empresa. Tenho muito a agradecer , pois sou apenas uma folha da floresta que o Seu Robert está plantando aqui na região”, disse.

Única mulher na atual equipe de aprendizes de soldador, Andréia Cristina Santos ressaltou que, além de oferecer a oportunidade de cursos gratuitos, Robert Kern também prima pela qualidade do ensino que transmite: “Já tive a oportunidade de fazer outros cursos de solda, mas alguns têm muita teoria. O curso oferecido pelo seu Robert é muito prático e realmente nos prepara para o mercado de trabalho”.

Promessas

O desconforto causado pelo desprezo das autoridades brasileiras em relação ao projeto social desenvolvido por Robert Kern foi atenuado pela presença do vice-prefeito de Casimiro de Abreu (município vizinho a Rio das Ostras) na comemoração pelos dez anos da escola.

Diante de Kern, o vice-prefeito Heleno Antônio Ribeiro prometeu lutar para conseguir recursos para o projeto: “Essa escola é uma iniciativa muito importante em uma região que é muito carente”, disse.

Outra pessoa presente à comemoração que prometeu buscar caminhos de apoio à Associação Escola Robert Kern foi Dowsley de Oliveira, que é secretario de Desenvolvimento de Negócios em Petróleo de Rio das Ostras e coordena a Zona Especial de Negócios em Petróleo (ZEN) do município: “É preciso estimular o diálogo com o empresário. Temos na ZEN 20 empresas registradas e outras 50 em desenvolvimento. Essas empresas podem absorver a mão-de-obra que sai da escola”.

Bom-humor

Com o bom-humor que lhe é característico, Kern comentou a relação com o Estado brasileiro: “As autoridades só lembram de mim na hora de dificultar a entrada das máquinas que vêm da Suíça. Já me acostumei com a ‘burrocracia’ aqui na alfândega”, disse, dobrando propositalmente a pronúncia do erre. O prefeito de Rio das Ostras, segundo Kern, “não encontra o caminho daqui”.

Também presente em Rio das Ostras, o cônsul-geral da Suíça no Brasil, Roland Fischer, manifestou o apoio do país ao projeto social coordenado por Robert Kern e prestou uma homenagem ao conterrâneo: “Você, Robert, pode ficar hoje muito orgulhoso dos resultados obtidos ao longo desses dez anos. A oficina cresceu graças à sua persistência, lutando sozinho contra numerosos problemas. Você dá esperanças a muitos jovens brasileiros ao oferecer uma formação profissional”, disse.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

Além dos dez anos de atividade da Associação Escola Robert Kern e da inauguração de mais um galpão para o curso de caldeireiro, havia um terceiro motivo para comemoração em Rio das Ostras: o aniversário de Kern, que completou 65 anos. A festa teve direito a bolo de aniversário decorado com as bandeiras do Brasil e da Suíça.

Os alunos se revezaram para homenagear Kern, que ganhou uma placa comemorativa e um buquê de flores. Antes do parabéns, foram executados os hinos do Brasil e da Suíça.

Entusiasmado com o que faz, o suíço contava aos amigos seus projetos para os próximos 20 anos: “Depois, talvez eu queira parar para descansar”, disse.

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