Blinken chega a Israel enquanto Netanyahu e Hamas trocam acusações por falta de acordo em Gaza
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o movimento islamista palestino Hamas se acusaram mutuamente neste domingo (18) pelo fracasso dos mediadores em alcançar um acordo por um cessar-fogo em Gaza, no mesmo dia em que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou em Israel.
Às vésperas de uma reunião com Blinken, que chegou neste domingo à tarde em Israel, Netanyahu pediu à comunidade internacional que pressione o Hamas para negociar uma trégua no território palestino.
Já o movimento islamista acusou o premiê israelense de “obstruir” o acordo, após a última rodada de negociações em Doha.
“Consideramos Benjamin Netanyahu totalmente responsável pelo fracasso dos esforços dos mediadores, por obstruir um acordo e pelas vidas dos reféns, que correm o mesmo perigo que o nosso povo”, afirmou o movimento islamista palestino em um comunicado.
Contudo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que “ainda é possível” alcançar um cessar-fogo em Gaza e que seu país não se dará por “vencido” no esforço para conseguir esse objetivo, como indicado pela presença de Blinken na região.
Esta é a nona viagem do chefe da diplomacia dos Estados Unidos ao Oriente Médio desde o início da guerra há mais de 10 meses neste pequeno território palestino, desencadeada após um ataque mortal do movimento islamista Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
Blinken se reunirá separadamente na segunda-feira com Netanyahu, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o presidente, Isaac Herzog, antes de viajar ao Egito na terça-feira, disse um funcionário que o acompanha na viagem.
Neste domingo, Netanyahu fez um apelo por uma “forte pressão” sobre o Hamas e “não sobre o governo israelense”, denunciando a “rejeição obstinada” do movimento palestino a uma possível trégua.
“Há coisas nas quais podemos ser flexíveis e outras nas quais não podemos”, reiterou, afirmando que “além dos esforços consideráveis para trazer nossos reféns de volta, permanecemos firmes nos princípios (…) essenciais para a segurança de Israel”.
As negociações indiretas para um acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas serão retomadas na semana que vem no Cairo.
Os países mediadores, Estados Unidos, Catar e Egito, mencionaram progressos nas negociações, após uma primeira rodada na quinta e sexta-feira em Doha, e os negociadores israelenses compartilharam seu “otimismo moderado”.
“O sentimento, em particular entre aqueles que fizeram parte da mediação em Doha, é que os diferentes pontos de bloqueio que existiam antes podem ser superados e que os esforços continuarão”, declarou uma autoridade americana que acompanha Blinken.
Mas para o movimento islamista palestino, que não quis participar das conversas, essa possibilidade é uma “ilusão”.
“Não estamos diante de um acordo ou negociações reais, mas sim da imposição de ditames americanos”, disse Sami Abu Zohri, membro do gabinete político do Hamas.
Os EUA apresentaram na sexta-feira uma nova proposta de acordo, mas o grupo islamista rejeita qualquer proposição revista e exige a aplicação do plano anunciado por Biden no fim de maio.
– “Concluir o acordo” –
Em sua visita a Israel, Blinken buscará “concluir o acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns e detidos”, disse o Departamento de Estado.
O plano apresentado por Biden em 31 de maio prevê uma primeira fase de seis semanas de trégua com uma retirada israelense das zonas densamente povoadas de Gaza e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Na segunda fase, a proposta inclui a retirada total das tropas de Israel de Gaza.
Com uma trégua no território palestino, os mediadores também buscam reduzir a tensão no restante do Oriente Médio.
O Irã e seus aliados, incluindo o Hezbollah, prometeram vingar a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã, um dia após a morte do chefe militar do movimento islamista libanês em um bombardeio israelense perto de Beirute.
A guerra em Gaza eclodiu em 7 de outubro, quando militantes islamistas mataram 1.198 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Também sequestraram 251 pessoas no sul de Israel, das quais 111 permanecem em Gaza, embora 39 tenham sido declaradas mortas pelo Exército israelense.
A ofensiva de Israel em Gaza deixou pelo menos 40.099 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que não detalha quantos são civis ou combatentes.
– “Os tanques estão se aproximando” –
Em Gaza, a ofensiva israelense não foi interrompida durante as negociações.
A Defesa Civil do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007, reportou no domingo 11 mortes em bombardeios em Jabaliya, no norte, e em Deir al Balah, no centro.
Imagens da AFP mostraram palestinos fugindo de um acampamento improvisado na região de Khan Yunis, a pé, de carro ou em carroças, depois que tanques israelenses tomaram posição em uma colina próxima.
Um guarda de segurança israelense morreu no domingo em um ataque em um assentamento judaico na Cisjordânia ocupada, anunciou o hospital israelense onde foi internado.
A vítima foi identificada como um residente desta mesma colônia, perto da aldeia palestina de Jit, onde colonos mataram um jovem palestino na noite de quinta-feira, segundo o Ministério da Saúde palestino.
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