
Acordo de Trump sobre Gaza, uma economia global surpreendentemente resiliente e o bisão do Yellowstone

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“Tudo o que fiz em minha vida foram negócios. Os melhores negócios simplesmente acontecem… Foi o que aconteceu aqui. E talvez este seja o maior de todos os negócios…”. Ainda não se sabe se a previsão do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a paz no Oriente Médio se concretizará. Ela foi feita após o anúncio de um cessar-fogo intermediado por ele entre Israel e o Hamas. No entanto, a mídia suíça tem dado ao presidente americano um crédito cauteloso.
E agora, boas notícias: a economia global parece resistir surpreendentemente bem à política tarifária de Donald Trump. Por quê? Além disso, os bisões que circulam livremente no Parque Nacional de Yellowstone estimulam o ecossistema e contribuem para a biodiversidade.

Com o cessar-fogo em Gaza, o presidente dos EUA, Donald Trump, conseguiu o que a diplomacia mundial não havia conseguido em dois anos. É o que afirma a plataforma suíça SRF. “Trump mereceu esse aplauso”, declarou, ao mesmo tempo, o jornal Tages-Anzeiger.
“O cessar-fogo é frágil e não se vislumbra uma estrutura para a paz”, analisou a SRF na quarta-feira. “Mas os reféns estão de volta a Israel, e os habitantes da Faixa de Gaza não estão mais sob uma saraivada de bombas.”
A SRF reconheceu que a personalidade de Trump teve uma “contribuição decisiva” para o acordo de Gaza. “Impulsionado pelo desejo de entrar para a história como um pacificador, ele deixou de lado as considerações tradicionais e colocou Israel sob pressão”, disse. O presidente americano também foi capaz de se apoiar em líderes como seu “amigo”, o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, para influenciar o grupo militante palestino Hamas.
A paz se manterá? “O plano de Trump pode ser um bom começo, mas a paz só virá de uma solução justa baseada no respeito ao direito internacional”, escreveu o ex-ministro palestino da Cultura, Anouar Abou Eisheh, no jornal francófono Le Temps.
O NZZ observou que “até mesmo os piores críticos de Trump parecem estar percebendo lentamente que suas políticas são mais ambivalentes e multifacetadas do que se retratava”. O jornal zuriquense afirmou que era “quase cômico” ver como a mídia, que anteriormente descrevia Trump como um perigo para a humanidade, agora, de repente, pedia que ele recebesse o Prêmio Nobel da Paz. “Defender a paz muda a percepção do público, e provavelmente esse também é o motivo pelo qual Trump tem uma obsessão tão grande pelo Nobel. Seria uma espécie de prova pública para ele de que todos os que o chamam de racista e fascista estão errados.”
Para o Tages-Anzeiger, o cessar-fogo em Gaza mostra que “se Trump usar seu poder e influência e concentrar sua energia em crises de política externa, como no Oriente Médio, em vez de minar ainda mais a democracia dos EUA, ele poderá ter sucesso em interromper o ciclo interminável de violência”. Se isso acontecesse, disse o jornal, Trump seria de fato um sério candidato ao Prêmio Nobel da Paz — “uma honra que não se exige, mas se recebe”.

A economia global está em melhor estado do que se acreditava, mas a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua sendo um grande risco, alertou o NZZ na quarta-feira.
O NZZ analisou as conclusões do relatório publicado na terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI afirmou esperar um crescimento global de 3,2% para este ano e de 3,1% para 2026. Isso representa um aumento em relação às previsões de 2,8% e 3% feitas em abril, logo após Trump ter chocado o mundo, e especialmente a Suíça, ao anunciar tarifas punitivas bilaterais.
O FMI agora considera que os efeitos negativos estão na extremidade inferior das expectativas: a economia global mostra-se mais resistente do que os especialistas do Fundo em Washington temiam. Por quê? A diretora do FMI, Kristalina Georgieva, apresentou quatro motivos. Primeiro, as economias emergentes, em especial, estabilizaram suas políticas monetárias e fiscais, razão pela qual as saídas de capital foram limitadas durante a recente turbulência.
Segundo, o setor privado demonstrou grande capacidade de adaptação. Muitas empresas ajustaram suas cadeias de suprimentos ou anteciparam exportações para os EUA a fim de evitar as tarifas. O FMI também afirmou que o investimento crescente em infraestrutura de inteligência artificial (IA), especialmente nos EUA, contribuiu consideravelmente para o crescimento econômico.
Um terceiro motivo para um otimismo cauteloso é que as tarifas dos EUA tiveram menos impacto sobre o restante do comércio global do que se temia. “Até o momento, o mundo evitou entrar em uma guerra comercial baseada em retaliação”, disse Georgieva na semana passada. Entretanto, o NZZ ressaltou que a disputa tarifária de Trump com Pequim, que voltou a se acirrar, mostra que a situação continua extremamente volátil.
O quarto fator positivo mencionado por Georgieva são as condições financeiras muito favoráveis em muitos países.
No entanto, o relatório do FMI concluiu com um alerta sobre o aumento da pressão política sobre os bancos centrais, o que poderia reduzir a credibilidade de sua política monetária. Pela primeira vez, esse alerta não é direcionado apenas a países como a Turquia ou a Argentina, mas também aos EUA, onde Trump vem pedindo há meses que o Federal Reserve reduza drasticamente a taxa básica de juros.

O aumento do número de bisões em liberdade no Parque Nacional de Yellowstone, no oeste dos Estados Unidos, está estimulando os ecossistemas que os sustentam e contribuindo para a biodiversidade de aves e anfíbios.
O jornal francófono Le Temps informou na segunda-feira que, dos 30 a 60 milhões de bisões que viviam nos EUA no início do século 19, restavam apenas mil em 1900, antes de serem feitos esforços para protegê-los. Hoje, sua população é estimada em 400 mil. A maioria vive em pequenos rebanhos de algumas centenas. Cerca de metade dos bisões vive em fazendas, onde são criados para o consumo de sua carne, e a outra metade em reservas naturais, onde 75 mil animais são abatidos todos os anos para controlar a população.
A política de rewilding de Yellowstone, iniciada na década de 1960, aumentou a população de bisões para cerca de cinco mil – o limite estabelecido pelas autoridades do parque para 2024.
Apesar das restrições geográficas impostas – os animais são capturados e abatidos se saírem dos limites do parque -, os bisões se movem conforme as estações para encontrar pastagens favoráveis. “Essa região nos dá uma excelente oportunidade de estudar seu impacto sobre a vegetação”, explica Bill Hamilton, autor de um estudo sobre os bisões que vivem ao norte do Parque Yellowstone, publicado na revista Science em agosto.
“Comparando trechos de terra que são acessíveis e outros que não são […], podemos ver que as pastagens são resilientes diante do pastoreio intensivo dos grandes herbívoros endêmicos”, diz ele. Essa resiliência pode ser explicada pelas complexas interações entre herbívoros, plantas, nutrientes e bactérias do solo.
Além disso, ao pisotear o solo, o bisão quebra os detritos das plantas, acelerando sua decomposição. “Suas pegadas profundas no solo criam pequenas crateras – um ambiente favorável para todos os tipos de sapos, salamandras e répteis – e permitem que os pássaros bebam”, afirma Hamilton.
- “Os bisões de Yellowstone são os anjos da guarda de seu território” – Le Temps (francês)Link externo
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Adaptação: Alexander Thoele, com ajuda do Deepl

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