Apelo à doação de órgãos aos jovens
Jovens devem ser os primeiros da lista de receptores de órgãos. Quem tem mais anos de vida pela frente deveria passar na frente dos pacientes mais velhos e convalescentes, diz um perito no assunto.
Mas nem todos concordam com Franz Immer, da Associação de Doadores de Órgãos da Suíça Swisstransplant. Críticos refutam o caráter pouco ético e discriminatório da proposta para seleção de receptores.
Em uma análise voltada para políticos e peritos da área da saúde, publicada semana passada, o diretor de Swisstransplant disse que, como a demanda por órgãos na Suíça – e no mundo inteiro – ultrapassa em muito as doações, dar para uma pessoa velha, seriamente doente, um coração novo, por exemplo, poderia não ser o melhor uso de um artigo tão precioso.
“De acordo com a lei, a prioridade principal é a urgência, a segunda prioridade é o benefício médico e a terceira é o tempo passado na lista de espera”, declarou Franz Immer à swissinfo.ch, definindo o benefício médico como “o que alcança a melhor solução para o paciente.”
Segundo Swisstransplant, só no ano passado 67 pessoas morreram no país na espera de uma doação. Diante de tal escassez, a associação se questiona se a sociedade pode se permitir não priorizar o aproveitamento máximo de todo órgão.
“Eu acho que o tempo para obtenção de um transplante e a qualidade de vida devem ser um fator”, declarou Franz Immer. “Por exemplo, há pacientes que têm que esperar dois a três anos por um transplante de rim, mas os efeitos colaterais de hemodiálise em pacientes de 18 anos de idade são dramáticos! é por isso que os especialistas sugeriram priorizar esses jovens pacientes.”
Enquanto defende a ideia que doar órgãos aos jovens permite salvar vidas produtivas, o diretor de Swisstransplant enfaizou que ele não estava defendendo um prazo baseado em idade.
“”emos doadores idosos que se qualificam melhor para receptores idosos e doadores jovens que se qualificam melhor para receptores mais jovens. Não estamos apoiando, de forma alguma a criação de uma escala de valores sociais. Nossa preocupação é com o benefício médico para o paciente.”
Toda vida humana tem o mesmo valor? “Absolutamente.”
Uma corda bamba?
Segundo Franz Immer, a maioria dos médicos cirurgiões concordam com as mudanças propostas. O que não é o caso de todos os políticos.
“Onde vai parar isso?” questiona Viola Amherd, do Partido Democrata Cristão (PDC). Quem terá mais prioridade: quem paga impostos altos ou quem dispõe de parcos benefícios? Um cirurgião ou um trabalhador de fábrica?
Outras pessoas demonstraram preocupações semelhantes: por exemplo, prisioneiros deveriam ir para o fim da fila? Uma mãe jovem com três crianças deveria passar na frente de uma jovem sem filhos? Deveria se recusar doar fígados ou pulmões a alcoólatras ou fumantes?
Bea Heim, do Partido Socialista (PS), disse que não se pode calcular o valor de uma vida usando equações.
Para Viola Amherd, a situação médica de um paciente é o único fator objetivo e qualquer outra coisa conduziria a debates destorcidos para saber qual vida tem mais valor.
“Risco Zero”
Felix Gutzwiller, médico e senador pelo Partido Liberal Radical (PLR), que propôs um projeto de lei para mudar o sistema de doação de órgãos na Suíça, reconhece essas preocupações, mas diz não estar de acordo com elas.
“A legislação é muito clara, a Constituição é muito clara: não pode haver nenhuma doação baseada em outro princípio que o da igualdade de acesso, em outras palavras, um “critério de justiça”.
“Baseado nisto, não acho realmente que há qualquer risco de critérios sócio-econômicos entrarem no processo decisório para doação de órgãos.”
Pessoas mais idosas, sem filhos não deveriam temer uma discriminação? “Não. Por exemplo, no caso – muito raro – em que três pessoas da mesma lista de espera, tenham o mesmo tempo de espera e que sejam todas compatíveis com o órgão, então, nesse caso, o mais jovem adquiriria prioridade”.
“Mas isso é realmente uma construção teórica, porque quase sempre você tem ou uma incompatibilidade, ou uma doença que está progredindo e que precisa de ação. Com certeza na Suíça não há nenhum risco em pensar de acordo com tais critérios.”
Adultos responsáveis
Algumas decisões difíceis poderiam ser evitadas se houvessem mais doadores na Suíça, admite o diretor de Swisstransplant. O país ocupa um dos últimos lugares no ranking dos países doadores da Europa.
Em 2008 havia apenas 11.8 doadores suíços por milhão de habitantes. Só para comparação: na Áustria, 20.3 por milhão; na França, 25.1 por milhão; e na Espanha, mais de 30 por milhão.
Para melhorar isso, Gutzwiller está pedindo uma “mudança de paradigma” relativo ao sistema de consentimento na Suíça. No momento, os órgãos de uma pessoa só podem ser usados se o doador der seu consentimento explicitamente.
“Nós não deveríamos ter uma solução baseada no consentimento explícito, mas sim no consentimento presumido: se você ou seus pais não disserem que não, você é, em princípio, um candidato para transplantação de órgão.”
Em um projeto de lei que será discutido no Parlamento esta semana, ele propôs esta e várias outras medidas para aumentar a disponibilidade de órgãos, como marcar na carteira de habilitação que o motorista é um doador.
62 pessoas morreram em 2008 na Suíça na espera de um transplante de órgão.
Foram importados 19 órgãos de outros países.
942 pessoas esperavam uma doação em 2008, um aumento de 19% em relação a 2007.
A Suíça vem tentando adaptar sua legislação em matéria de transplantes desde 1° de julho de 2007.
Segundo as leis do país, os órgãos de uma pessoa só podem ser colhidos se o consentimento for dado anteriormente. O testamento da pessoa falecida anula os desejos de parentes sobreviventes.
Mas se a pessoa não deixar claro sua intenção de doar os órgãos antes de morrer, o próximo de família pode decidir. Se não existir nenhum parente, os órgãos não podem ser retirados.
Em 2008, menos de 10% dos órgãos recolhidos vieram de pessoas que tinham preenchido um cartão de doador.
Não há idade mínima para ser doador. Em 2008, os órgãos de um doador de 85 anos de idade puderam ser aproveitados. Crianças frequentemente não são doadores, mas no ano passado uma criança de um ano de idade recebeu um transplante.
(Adaptação: Fernando Hirschi)
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