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Somente dinheiro: como um fundo da ONU vai compensar ‘perdas e danos’ causados pelo clima

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Um fundo da ONU para responder a “perdas e danos” causados aos países por eventos climáticos está pronto para ser acionado, após negociações difíceis, e prepara suas primeiras alocações, informou um dos seus responsáveis à AFP.

O mecanismo foi acordado na COP27, em 2022, depois que os países ricos cederam a anos de pressão das nações em desenvolvimento.

O fundo anunciou na segunda-feira (10), durante a COP30, a primeira chamada para propostas de projetos. O pacote inicial é de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão), que começarão a ser desembolsados em meados de 2026.

Os países poderão solicitar entre US$ 5 milhões (R$ 26 milhões) e US$ 20 milhões (R$ 105 milhões) por projeto. Serão concedidos apenas subsídios, e não empréstimos, para compensar os prejuízos causados por tempestades, inundações, secas e pelo aumento do nível do mar.

O francês Jean-Christophe Donnellier, copresidente do conselho de administração do fundo, explicou por que ainda não se pode liberar o dinheiro nas 24 ou 48 horas após um desastre, como pedem algumas ONGs, e como o mecanismo vai preencher uma lacuna no financiamento climático atual.

PERGUNTA: Por que o fundo não pode ajudar imediatamente países como a Jamaica, devastada recentemente por um furacão?

RESPOSTA: Não vamos oferecer uma resposta humanitária, isso está claro no nosso estatuto. Existem entidades que fazem isso muito bem. Queremos estar na etapa seguinte: mantendo as atividades, apoiando as populações, organizando os deslocamentos necessários para lidar com eventos climáticos, lançando programas de reconstrução.

PERGUNTA: Desejam algum dia poder responder rapidamente a esses desastres?

RESPOSTA: Não falamos mais em 24 horas, mas, talvez, em 15 dias. A única maneira de fazer isso de forma eficaz, inteligente, compreensível, e realmente atendendo às necessidades, é se preparar com antecedência. Isso é o que chamamos de financiamento pré-estabelecido. Significa termos planejado o que vamos desembolsar, e isso podemos fazer muito rapidamente.

PERGUNTA: Que tipo de projeto o fundo busca financiar?

RESPOSTA: Pode ser financiamento pré-estabelecido ou operações a serem realizadas imediatamente, caso seja necessário reforçar fronteiras costeiras ou elevar vias de circulação. Também podem ser pacotes de US$ 100 milhões (R$ 527 milhões) nos quais aportamos nossos US$ 20 milhões em espécie.

PERGUNTA: O quão significativo é o risco de corrupção na escolha de projetos? Acha que o risco está sendo subestimado por seus críticos?

RESPOSTA: Os países desenvolvidos estão dispostos a dar dinheiro, e cidadãos dos países desenvolvidos também, mas apenas se tiverem certeza de que ele não será mal gasto, nem local nem internacionalmente. Existem muitas questões relacionadas a financiamento do terrorismo, lavagem de dinheiro, etc..

Não podemos mais tolerar tanto. Nossos compatriotas não aceitariam. Eles têm razão, e essa é uma perspectiva que as ONGs precisam desenvolver, algumas o fizeram. Mas algumas tendem a querer colocar os bons contra os maus, o que é um erro trágico.

PERGUNTA: O fundo recebeu US$ 790 milhões (R$ 4,2 bilhões) em contribuições prometidas por países, principalmente europeus. A China contribuirá com o fundo em algum momento?

RESPOSTA: Tenho quase certeza de que a China contribuirá algum dia. Não digo que será neste ano, mas tenho quase certeza de que o fará.

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