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Covid e embargo, a fórmula dolorosa para as crianças com deficiência em Cuba

Jhoselyn Nobrega, menina cubana com deficiência, calça tênis no ginásio onde faz terapia em Havana, em 11 de junho de 2021 afp_tickers

Correr e andar de bicicleta é o maior desejo de Jhoselyn Nóbrega, uma menina cubana com deficiência que aos 11 anos superou cinco cirurgias e que a covid-19 obrigou a adiar o tratamento que lhe permitirá realizar esse sonho.

Ela e outras 31.000 crianças que frequentam escolas especiais interromperam suas terapias devido ao fechamento desses centros por causa do coronavírus, que se somou à escassez de medicamentos e equipamentos ortopédicos provocado pelo embargo intensificado que os Estados Unidos aplicam a Cuba.

A educação especial “foi uma das mais atingidas neste período pela combinação de pandemia e o fato de que toda a política de bloqueio contra nosso país se intensificou”, disse em uma conferência Beatriz Roque, diretora de Educação Especial do Ministério da Educação.

Jhoselyn superou obstáculos inimagináveis, incluindo a morte de sua mãe aos seis anos e uma série de operações para corrigir as malformações congênitas provocadas por uma paralisia cerebral.

“A menina está com uma operação pendente que não foi possível realizar porque a covid não permitiu”, conta o pai, Maikel Nóbrega, um operário da construção civil de 39 anos.

O hospital que atende sua filha foi destinado a pessoas infectadas pelo coronavírus.

Jhoselyn, porém, que também contraiu a covid em fevereiro, não perde a alegria. Ela dança movimentando os braços, enquanto reproduz vídeos no computador com suas primas.

“O que eu mais quero fazer?”, ela mesma se pergunta e responde com um brilho nos olhos: “correr com minha prima” e “andar de bicicleta”.

No dia 23 de junho, a ONU votará a resolução anual condenando o embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos há 59 anos.

– Reprogramar cirurgias –

A essa altura, já deveria ter operado os joelhos e pés.

Os especialistas haviam planejado que essas cirurgias – inicialmente previstas para o ano passado – combinadas com terapias, corrigiriam as malformações que ainda a impedem de andar normalmente.

As operações serão reprogramadas quando a emergência da covid terminar. Isso é algo que por enquanto parece distante.

Embora Cuba tenha poucas mortes por coronavírus (1.123), as infecções não param.

Na terça-feira, registrou um recorde de 1.537 casos positivos e acumulou cerca de 163.500 infecções desde o início da pandemia.

O prognóstico para Jhoselyn “é super favorável, acho que se nada acontecer, se tudo der certo, ela andará sem nenhum equipamento” depois dessas cirurgias, pondera sua fisioterapeuta, Jamileth Quintero, durante uma das sessões.

As dificuldades não são novas. “Houve um momento em que mandaram uma prótese que era para dormir e faltava o plástico”, assim como muitos materiais que não chegam à ilha por causa do embargo. “Tivemos que esperar”, conta o pai.

A diferença foi a escola Solidaridad con Panamá, um centro de educação especial para crianças na periferia de Havana que, segundo ele, mudou a vida de sua filha.

A diretora Esther Lao se orgulha de conhecer cada um dos alunos, que a chamam de “Tete”. “Há palavras que não uso com meus filhos”, como “eu não posso. Não. Você pode”, enfatiza. Seu papel, diz, é preparar a criança “para enfrentar este mundo”.

Mas sua dedicação às vezes é insuficiente porque nesta escola, como nas 345 especiais do país, as necessidades são muitas.

As máquinas de braille não podem ser consertadas por falta de peças de reposição, não há cadeiras elétricas suficientes ou outros materiais para próteses, explica Marlen Triana, diretora de educação básica do Ministério da Educação.

Até as baterias dos aparelhos auditivos estão faltando. “Se não há baterias, as próteses não funcionam, a criança não escuta e se a criança não escuta, como fazemos? Porque nossas crianças têm que escutar!”, declara, levantando a voz com desamparo.

Roilan e Ramdall González, dois irmãos de 13 e 14 anos que sofrem de deficiência intelectual, estudam na escola Sierra Maestra, em um bairro no centro de Havana. Eles também fizeram grandes avanços com a ajuda de professores e terapeutas.

Mas Roilan, por exemplo, “precisa de carbamazepina e houve momentos em que não havia”, conta Pilar Medina, diretora do campus.

Sua mãe tem que procurar em todos os lugares o remédio para acalmar sua ansiedade. “Isso lhe traz outras manifestações. Piora seu processo de socialização”, acrescenta, admitindo que às vezes faltam até analgésicos para baixar a febre nas crianças.

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