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Partidos apóiam o voto eletrônico

Os suíços e suíças no exterior são cada vez mais importantes para a democracia no país. Seis representantes dos principais partidos concordam. É, por essa razão, que estes se mostram mais uma vez cooperativos quando o assunto é o voto eletrônico (e-voting).

Sua mão aponta do palco para baixo, esquadrinhando o perímetro da sala onde estão sentados os suíços e suíças residentes no exterior.  “Eu também devo a minha eleição para o Conselho de Estados (Senado) aos suíços e suíças no exterior “, declara o senador Carlo Sommaruga (Partido Socialdemocrata). É um gesto habilmente executado, de deferência.

Seu colega sentado ao lado também envia um sinal de apreço.  “O potencial dos cidadãos e cidadãs que residem no exterior é totalmente subestimado na Suíça “, exclama o deputado-federal Nicolas Walder (Partido Verde – Genebra). Os outros parlamentares presentes no palco aquiescem. Elisabeth Schneider-Schneiter junta-se a eles. Ela cobre as pessoas presentes na sala do congresso – muitas delas idosas – de elogios:  “Vocês são influencer!”, afirma a deputada-federal do Partido do Centro (Mitte).

200 mil eleitores

Os delegados de associações e clubes suíços no exterior raramente receberam tanto apreço por sua participação no processo democrático interno, e de maneira tão concentrada. Os seis pesos-pesados políticos de todos os partidos, sentados alinhados da esquerda para a direita no palco do congresso, disseram em uníssono que tudo o que for técnica e financeiramente possível deve ser feito para que a “Quinta Suíça” possa participar regularmente das eleições sem se deparar com obstáculos.

E eleger, claro. Essa é também a razão dessa nova tonalidade na política suíça. Pois dentro de um ano haverá eleições federais. Um bom número de 200 mil suíços e suíças no exterior participarão. Trata-se de um eleitorado considerável, equivalente ao poder de voto de um cantão de médio porte. Nenhum partido pode ignorar esse fato, e nunca os avanços foram tão concretos. A promessa é a seguinte: não haverá mais empecilhos ao maior anseio da diáspora suíça, o voto eletrônico.

Isso, porque os serviços postais não são suficientemente confiáveis para o envio de cédulas e documentos de voto aos suíços e suíças no exterior, os atrasos longos e frequentes ou simplesmente inadequados para muitas regiões. O voto eletrônico seria, portanto, a solução elegante, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A Suíça vem tentando há anos e ganhou muita experiência. Mas depois seguiu-se uma série de contratempos, até que a confiança em todos os sistemas se erodiu completamente. A democracia suíça é demasiado valiosa para experimentos, dizia-se em 2019. Um  “fiasco “, afirma Filippo Lombardi, presidente da Organização dos Suíços no Exterior (ASO, na sigla em alemão).

Como nos tempos dos correios

Mas os anos de lobby da ASOLink externo estão produzindo frutos. Um novo sistema está sendo criado. Todas as lições do passado devem ser incorporadas no mesmo. Mas será que a confiança do povo em um sistema de votação eletrônica ainda pode ser reparada?  “Há pessoas em todas os partidos que estão prontas para o voto eletrônico “, diz Nicolas Walder (Partido Verde).  “Os debates de hoje me fazem lembrar aqueles de quando o correio postal foi introduzido “, acrescenta Laurent Wehrli, deputado-federal do Partido Liberal. Roland Büchel, deputado pelo SVP (Partido do Povo Suíço), conclui com uma premissa básica:  “Se não se pode confiar que o sistema funcione, nunca se terá o consentimento do povo “. Que se desconfie do Estado também não é, em princípio, irracional, acrescenta ele.

Elisabeth Schneider-Schneiter retoma o fio. Ela diz:  “Na área da digitalização, também temos às vezes de correr riscos. A indústria tem tudo sob controle. Investimos muito pouco dinheiro na digitalização pública “.

Naturalmente, a singular democracia semidireta suíça tem um preço. Mas, afinal de contas, será que valem a pena para o país os suíços e suíças que vivem no exterior? Todavia, há também este “terrível debate sobre suíços no exterior”, como recorda Laurent Wehrli (FDP): “As pessoas falam sobre os aproveitadores de aposentadorias sob palmeiras. Ou pior ainda, sobre esses suíços que metem o bedelho e não pagam impostos”.

Visão evoluiu

Até agora, o voto eletrônico era visto principalmente como um projeto destinado a cidadãos e cidadãs residentes no exterior, bem como a pessoas com deficiência. Para os cidadãos e cidadãs residentes no país, tratava-se de um gadget técnico, talvez até como um certificado da competência de um Estado orientado para o futuro. Bom de se ter, mas também se pode passar sem ele. Não havia pressa.

Mas essa visão tem evoluído. O Congresso dos Suíços no Exterior 2022 em Lugano deixou isso bem claro. Este concentrou-se na democracia. Ocorreu com presença física pela primeira vez em três anos, e só nesses três anos muita coisa mudou: agora é um truísmo dizer que as democracias já não são autoevidentes.

Elas precisam ser reforçadas e nutridas a fim de resistir às influências nocivas de fora, à decomposição a partir de dentro e aos autocratas. Um desses pontos fortes é a diversidade: quanto mais diversificado e amplo for um sistema – ou um eleitorado – mais legítimas são suas decisões e maior sua resiliência.

 “A inclusão do maior número possível de grupos fortalece a democracia “, disse do palco Roland Fischer, deputado-federal do Partido Liberal Verde (PLV). Na discussão – mas também em todas as conversas e discursos ao longo do congresso – tornou-se claro que tais pensamentos incluem explicitamente os estrangeiros na Suíça e as gerações mais jovens de eleitores: quanto mais pessoas tiverem voz, melhor. Porque, para que a democracia perdure, ela precisa de uma renovação constante.

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Receios?

Andreas Feller é um dos mais jovens representantes no  “Parlamento dos Suíços e Suíças no Exterior “, ligado ao Conselho dos Suíços no Exterior. Ele colocou uma questão, formulada com certa presunção, aos políticos veteranos presentes no palco:  “Não poderia o voto eletrônico também mudar significativamente a composição do eleitorado? “

Em outras palavras, será que os políticos estabelecidos têm algo a perder se novos eleitores, de repente, entrarem em cena? “Não, não temos medo disso “, respondeu Roland Fischer.  “Se conseguirmos tocar os mais jovens com voto eletrônico, algo novo pode desenvolver-se “.

Elisabeth Schneider-Schneiter, política experimentada, no entanto, concordou com o jovem suíço expatriado na Inglaterra.  “Sim “, disse ela,  “tecnologias desconhecidas criam incerteza “. E sim, reafirmou, isso tem uma influência.

Adaptação: Karleno Bocarro

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