Juíza que investigava corrupção na Guatemala renuncia por ‘pressões’ e ‘ameaças’
A juíza guatemalteca Erika Aifán, que lidava com casos de corrupção de alto perfil, renunciou nesta segunda-feira (21) diante de pressões por parte de redes criminosas e temores por sua segurança.
“Decidi apresentar minha renúncia ao cargo porque não conto com garantias suficientes de proteção à minha vida”, declarou Aifán em um vídeo divulgado no Twitter.
A agora ex-juíza fez seu anúncio dos Estados Unidos, onde se exilou, de acordo com a imprensa local.
Aifán foi uma das ganhadoras do prêmio internacional “Mulheres de Coragem” em 2021, concedido nos EUA a lideranças femininas excepcionais.
Desde 2019, gozava de medidas cautelares ordenadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por ser alvo de ameaças e hostilidades no âmbito de seu trabalho.
“Conheci grandes casos de crime organizado e estruturas de corrupção em todos os níveis do Estado, de onde surge o maior número de pressões e ameaças contra minha independência e minha integridade”, acrescentou.
Entre os casos sob sua responsabilidade estava a suposta manipulação para designar juízes no Poder Judiciário descoberta em 2020 pela Promotoria Especial Contra a Impunidade (FECI, na sigla em espanhol), orquestrada pelo influente empresário Gustavo Alejos, envolvido em vários casos de corrupção.
Aifán enfrentava um processo que visava retirar sua imunidade por ter ordenado uma investigação contra juízes ligados a esse caso, pois os denunciantes, um grupo de magistrados de apelações, alegaram que ela não tinha competência para fazer isso.
“As redes políticas e criminais que se viram afetadas pelos avanços da Justiça decidiram cooptar mais uma vez as instituições e perseguir quem se atreveu a combater a impunidade”, afirmou a ex-juíza, após dizer que não contava com as garantias de um devido processo.
A renúncia ocorre um mês depois da detenção de cinco ex-promotores da FECI e de uma representante da extinta Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (CICIG) das Nações Unidas (2017-2019) por abuso de autoridade.
Essas prisões foram realizadas a pedido do Ministério Público, a cargo de Consuelo Porras, incluída pelos EUA em uma lista de figuras “corruptas”.
Ex-funcionários que trabalharam em órgãos antimáfia na Guatemala classificaram essas detenções como uma “vingança” contra quem lutava contra a corrupção. A Promotoria nega tais acusações.
A maioria dos detidos foi libertada e outros seguem sendo processados por delitos menores.