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Os protagonistas do reencontro

A 9 de abril de 1974, Martin Nicoulin recebe o título de Cidadão Friburguense. Arquivos privados

Em 1973, é publicada em Friburgo "La Genèse de Nova Friburgo", tese de doutorado da Universidade de Friburgo, fruto de pesquisas históricas de Martin Nicoulin, na Suíça e no Brasil.

Esse livro desperta em Friburgo, no Jura e na Suíça, em geral, a lembrança da emigração.

Em abril de 1974, Martin Nicoulin leva seu livro a Nova Friburgo. A Câmara Municipal lhe concede o título de Cidadão Honorário. a prefeito de Nova Friburgo, Amâncio Azevedo, organiza um encontro do autor com jovens descendentes de suíços. Numa tarde de domingo, Rafael Jaccoud e o jovem historiador conversam longamente sobre a saga dos suíços, em Nova Friburgo. A rádio local transmite um programa do qual participam o jovem autor de Friburgo, Rafael Jaccoud, Ariosto Bento de Mello e seu irmão, Heródoto. A idéia de unir as duas cidades é lançada e germina, na cabeça de Ariosto, que já conhece a Suíça.

Martin Nicoulin continua suas conferências na Suíça. Uma será marcante: a de 27 de abril de 1976, no Lion’s Clube, presidida por René Louis Rossier.

Nessa noite, em Friburgo, surge também a idéia do reencontro. Na noite de 24 de maio de 1976, Ariosto Bento de Mello, passa pela Rue d’Or 18, em Friburgo, e deixa um bilhete na caixa de correio de Martin Nicoulin. E o convida a reencontrá-lo, no” Hôtel Central “. No dia seguinte, os dois se confraternizam tomando um cafezinho. Ariosto tem duas aspirações : organizar encontros entre as duas cidades e realizar um museu sobre a emigração. Martin Nicoulin telefona a René Louis Rossier que recebe os dois amigos na mesma manhã.

Em 25 de maio de 1976, os militantes do reencontro já são três. a projeto é debatido com o Pe. Kaelin, diretor do coral ” La Chanson de Fribourg “. a número dos que militam por Nova Friburgo chega a quatro. a projeto se concretiza e avança, rapidamente.

A aliança sela dois encontros

Em 17 de novembro de 1977, uma caravana de 261 friburguenses, com” La Chanson de Fribourg “, a banda” La Concordia e o ” Quatuor Boschung ” desfilam na avenida principal de Nova Friburgo. O grande reencontro é um verdadeiro delírio: o povo de Nova Friburgo festeja seus irmãos suíços com profusão de flores e ternura.

Alda Condak apresenta emocionante exposição histórica na Câmara Municipal. “Duas cidades, mas um só coração”, o slogan lançado pelo grande organizador entra para a história. De volta à Suíça, o prefeito da cidade de Friburgo, Lucien Nussbaumer, realça o significado do evento: “Uma população, cujo passado brasileiro não está muito distante, encontrou, através de nossa presença, suas raízes e suas origens. Ela reatou o grande elo das gerações que se perde na noite dos tempos. Fomos recebidos como portadores dessa mensagem e dessa esperança. Porque esperança existe e não deve ser frustrada.

Em 17 de fevereiro de 1978, os protagonistas e os participantes do reencontro fundam, no restaurante ” La Viennoise “, a Associação Friburgo-Nova Friburgo. Presidente: Martin Nicoulin; vice-presidente, René Louis Rossier. No mesmo dia, ocorre em Nova Friburgo a fundação de associação similar: Presidente, Ariosto Bento de Mello; vice-presidente, Rafael Jaocoud.

A Associação de Friburgo edita o livro “Fribourg retrouve Nova Friburgo”, lança uma operação de ajuda (” les trois lapins ” do P. Kaelin) e prepara a vinda dos brasileiros a Friburgo em 1981, por ocasião das festas do quinto centenário da entrada da Suíça na Confederação. Um verdadeiro desafio! Em Friburgo, René Louis Rossier, presidente do comitê de organização, trabalha com eficácia e dinamismo para o bom êxito do evento.

Viagem

Em 1980, o presidente e Jean-François Bourgknecht, vereador que acompanha a “Orchestre des Jeunes”, convida oficialmente Nova Friburgo. Mas acontece um drama. Em 19 de novembro de 1980, morre Ariosto Bento de Mello.

A Associação com P. Kaelin celebra uma missa na capela da Universidade. O presidente enfatiza o carisma de Ariosto: “É um humanista de nossos tempos. Nos traços da história, ele procurava os germes de um futuro…”. Corajosa e eficazmente, seu irmão, Heródoto, que conhece os amigos suíços da Associação, por ter visitado Friburgo, em fevereiro de 1980, retoma o bastão e toma-se presidente da Associação do Brasil e organiza a viagem.

Em 20 de junho de 1981, 300 brasileiros desembarcam no porto de Estavayer-le-Lac. Volta-se ao ponto de partida. Eles visitam o país de suas raízes.” É o regresso da viagem sem regresso”. Autoridades inauguram a Praça Nova Friburgo, em Friburgo, e um monumento em Estavayer-le-Lac. E acontece o incrível: dois povos, durante 10 dias, se encontram, festejam, se abraçam. Em Estavayer, os friburguenses de Friburgo choram ouvindo o “Vieux Chalet” tocado pela “Campesina” e “Les Chemins de la mer”, cantado pelo “Coro de jovens de Nova Friburgo”. “De Gachet à la Samba”, o espetáculo realizado na “patinoire” da cidade de Friburgo entusiasma o público. Em Murten, Schwarzsee, nas comunas de origem, os brasileiros semeiam emoção por onde passam. E a noite de Gruyàres termina com o fabuloso samba da amizade. Inesquecível! Triunfal! Histórica, a presença de Nova Friburgo em Friburgo, por ocasião das festas do V Centenário! Michel Colliard, jornalista de Friburgo, comenta o acontecimento:

” A festa,
a verdadeira festa de todos, a verdadeira festa para todos.
Ela ia surgir em Estavayer.
No porto de Estavayer.
Uma centelha, Uma proeza.

Um golpe de mestre. O estado de graça.
O momento inesquecível. inexplicável.

Incompreensível na sua dimensão humana, sobre-humano pela carga de emoção.
NOVA FRIBURGO desembarcava em Estavayer. “

Nova Friburgo foi fundada por imigrantes suíços em 1819. Durante muitos séculos as raízes helvéticas da cidade ficaram esquecidas.

O primeiro passo para recuperar essa memória foi dada pelo historiador suíço Martin Nicoulin, ao publicar em 1973 o livro “La Genèse de Nova Fribourg” (A Gênese de Nova Friburgo), uma tese de doutorado em que, na época, o jovem universitário suíço vasculhava a emigração para o Brasil de dois mil suíços, na maioria originária do cantão de Friburgo. A versão em português da obra sairia apenas em 1996.

Até 2002, Martin Nicoulin foi diretor da Biblioteca Cantonal e Universitária de Friburgo. Hoje ele está aposentado e continua atuando em diversas organizações como a Associação Friburgo-Nova Friburgo, do qual é presidente de honra.

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