Após a 1ª Guerra Mundial a Suíça viveu um período de carência habitacional. Diversas cooperativas ajudaram a solucionar o problema. Algumas delas festejam o centenário em 2019.
A industrialização crescente do país a partir de meados do século 19 fez com que muitos suíços abandonassem o campo para viver nas cidades. Como consequência surgiu uma escassez de moradias.
Cem famílias ficaram desabrigadas em Berna no verão de 1889. Muitas delas foram obrigadas a viver nos bosques nos arredores da cidade. A situação foi considerada insustentável pelas autoridades locais. A capital da Suíça foi, portanto, a primeira a usar o dinheiro dos contribuintes para construir casas populares.
A classe média fundou as primeiras cooperativas habitacionais a partir de 1890. A ideia: se várias pessoas juntarem forças, é possível construir moradia a baixo custo e alugar a si próprio, ou seja, sem lucro.
Autoajuda
Devido ao baixo nível de expansão imobiliária durante a 1ª Guerra Mundial, a escassez de moradia se intensificou novamente após o conflito. Especialmente na parte germanófona do país surgiram muitas cooperativas habitacionais, algumas das quais existem ainda hoje.
Como após a guerra havia um déficit de moradia e também era elevado o nível de desemprego no setor de construção, o governo apoiou as cooperativas com subsídios. Estes permitam a compra de material e acesso a empréstimos sem juros e terrenos a baixo preço.
A Companhia Suíça de Trens (SBB, na sigla em alemão) também apoiou as empreitadas, pois queriam garantir que os seus empregados pudessem viver a curta distância do local de trabalho.
Cooperativa da SBB
Em 1919 foi fundada a Cooperativa Habitacional dos Ferroviários (EBG). O objetivo era oferecer moradia às famílias dos trabalhadores. Na época a casa própria era o sonho para a maioria dos suíços. Os primeiros condomínios eram conjuntos de casas geminadas com hortas para que os trabalhadores pudessem cultivar os próprios alimentos.
O governo e a SBB apoiaram financeiramente o projeto, o que permitia os membros das cooperativas de economizar nos custos da construção: eles pagavam apenas uma pequena parte. Porém para os ferroviários de baixa renda as taxas ainda eram muito elevadas (assim como os aluguéis). Como resultado, os moradores dos conjuntos habitacionais eram, em grande parte, da classe média. Até hoje as casas com jardim são muito procuradas. As listas de espera são longas.
Posteriormente a EBG construiu outros conjuntos habitacionais e torres para tornar as moradias mais acessíveis às classes menos favorecidas. Até hoje ela é um importante investidor na construção de habitações sem fins lucrativos em Berna e seus subúrbios. Os funcionários públicos e de estatais continuam a ter preferência na candidatura por moradia nos locais.
A EBG publicou um livro intitulado “Bem-vindo à Casa” para comemorar seu centenário. O livro não só conta a história da cooperativa – em tons às vezes autocríticos – mas também trata de temas como gentrificação, arquitetura de prédios, preservação de monumentos e desenvolvimento de subúrbios. Fotos dos assentamentos e casas, bem como retratos dos moradores complementam a obra.
Cooperativas no século 21
Hoje aproximadamente quatro por cento das moradias na Suíça pertencem às cooperativas sem fins lucrativos. Nas metrópoles suíças a proporção de apartamentos e casas nesse esquema é dez vezes superior. Em Zurique, por exemplo, quase um quarto dos apartamentos são de cooperativas.
Em quase todas as cidades suíças há uma grande escassez de moradia. Dentre os fatores que acirraram o problema: a forte imigração de mão-de-obra qualificada do exterior nas últimas décadas. Os aluguéis também aumentam, já que imóveis são considerados um investimento seguro e lucrativo. Frente aos preços elevados, as cooperativas são vistas como uma alternativa.
Hoje, as cooperativas são consideradas pioneiras em novas formas de habitação e construção compacta.
Gentrificação
Mas as cooperativas são também criticadas, especialmente pelos habitantes que não conseguem se candidatar ou não encontram moradia vaga nelas. Para o grupo de estudos do empresariado, Avenir Suisse, o maior beneficiado da oferta das cooperativas habitacionais é a classe média no país.
De fato, uma das condições para o interessado poder se candidatar a uma moradia de cooperativa é fazer uma contribuição financeira que pode chegar a algumas dezenas de milhares de francos. O valor entra em um caixa comum e só é devolvido quando a pessoas entrega sua moradia.
Além disso, os conjuntos habitacionais recém-construídos pelas cooperativas suíças são de alto padrão, o que fazem com que os aluguéis sejam bastante elevados para o poder de compra de grupos menos favorecidos. Para os críticos, um problema gritante.
Uma das contribuições no livro do centenário da EBG, um geógrafo até adverte que as cooperativas poderiam contribuir ao fenômeno da gentrificação. Se apenas ricos povoam seus apartamentos nos novos condomínios, os bairros inteiros vêm suas populações de baixa renda expulsas lentamente.
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