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Cúpula Ibero-Americana pós-coronavírus tem foco central na economia

O presidente dominicano Luis Abinader e a primeira-dama Raquel Arbaje esperam a chegada do rei Felipe VI, da Espanha, ao Palácio Nacional em Santo Domingo, em 24 de março de 2023 afp_tickers

Líderes dos 22 países reunidos na Cúpula Ibero-Americana vão buscar, a partir desta sexta-feira (24), na República Dominicana, acordos sobre meios para abordar a difícil crise econômica deixada pela pandemia de covid-19 e agravada pela invasão russa da Ucrânia.

A América Latina, que enfrenta um 2023 difícil segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aposta em melhores condições de financiamento e apoio para enfrentar uma crise alimentar que afeta, ao menos, 25% de sua população.

Confirmaram presença 14 dos 22 chefes de Estado e de governo convidados para a reunião em Santo Domingo, que será aberta às 19h locais de hoje (20h em Brasília) e encerrada com uma declaração conjunta no sábado.

Nesta sexta, os chanceleres dos países representados participaram de uma reunião prévia para finalizar o documento que será assinado pelos chefes de Estado e de governo.

À margem desse encontro, o rei da Espanha, Felipe VI, e o presidente chileno, Gabriel Boric, mantiveram diálogos bilaterais com o chefe de Estado anfitrião, Luis Abinader, no Palácio Nacional.

A organização informou que destinaria espaços para outras reuniões bilaterais, mas não divulgou nenhuma agenda até o momento.

O encontro também vai servir como preparação para a cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), marcada para os dias 17 e 18 de julho, na Bélgica.

“A confluência de duas cúpulas neste semestre demonstra o interesse compartilhado em reativar a ‘outra relação transatlântica'”, escreveu em uma coluna o alto representante para a política externa da UE, Josep Borrell, que participa da cúpula ibero-americana.

“A concorrência estratégica entre Estados Unidos e China, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a ascensão do chamado ‘Sul Global’ levam o mundo para uma multipolaridade desordenada e instável”, continuou.

“Não é um convite ao isolamento, mas uma oportunidade para fortalecer nossa cooperação […] A América Latina e o Caribe são parceiros fundamentais”, frisou Borrell.

– ‘Ponto central’ –

Um tema de destaque será o acesso a financiamento para países pobres.

“É um ponto central”, declarou Rubén Silié, vice-ministro de Política Externa Multilateral do país anfitrião.

Os atuais “são financiamentos que não levam em consideração a situação de crise que nossos países estão vivenciando”, explicou Silié em coletiva de imprensa esta semana. “Com a sobrecarga que veio com a crise da saúde e, depois, com a crise na Europa, serão necessárias condições de financiamento completamente novas”, acrescentou.

O BID prevê um crescimento de 1% para América Latina e Caribe, inferior ao 1,8% projetado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Além disso, a região tem o custo mais alto do mundo para uma dieta saudável (US$ 3,89 diários por pessoa, cerca de R$ 20 no câmbio atual), inacessível para 22,5% de sua população, segundo as Nações Unidas.

Um encontro empresarial ibero-americano será concluído nesta sexta, antes da cúpula, com uma conversa entre chefes de Estado e de governo. Participarão do evento Abinader e os presidentes de Equador, Guillermo Lasso; Colômbia, Gustavo Petro; Paraguai, Mario Abdo Benítez; e Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

– ‘Tensões’ –

Uma das ausências de destaque na cúpula é o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que não enviou o seu chanceler, mas sim o subsecretário para a América Latina e o Caribe, Maximiliano Reyes.

Para Mariano de Alba, analista internacional do Crisis Group, essa decisão se dá em virtude do mau momento das relações entre Espanha e México, após as denúncias de López Obrador contra empresas espanholas em seu país, as quais acusou de pagar propina em troca de contratos no passado, com a cumplicidade dos governos dos dois países.

De qualquer maneira, “sempre existiram tensões com a Espanha” nas cúpulas ibero-americanas, indicou o especialista, que citou o famoso “por que não te calas” do rei Juan Carlos ao então presidente venezuelano Hugo Chávez em 2007.

Outro tema quente, mas que não será protagonista da cúpula, é a migração, segundo De Alba, que, no entanto, acredita que será uma questão mais discutida durante as reuniões bilaterais.

De fato, o assunto foi tratado no encontro entre Boric e Abinader, segundo o presidente chileno.

“Conversamos sobre a importância de abordar a migração, combater a corrupção e os desafios da mudança climática. Também falamos sobre os impactos da invasão da Ucrânia e os esforços de paz”, escreveu o líder chileno no Twitter.

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