Depois de conquistar Nova York, Hodler volta para a Suíça
En Em colaboração com a Neue Galerie de Nova York, a Fundação Beyeler de Basileia apresenta uma importante exposição das obras do fim da vida do pintor suíço. Muito cotado hoje na Suíça e no estrangeiro, Ferdinand Hodler é apresentado primeiro como ser humano, o que o torna mais acessível.
“Hodler é um pintor único. Captava o brilho do instante, e conseguiu de maneira esplêndida exprimir suas emoções através da beleza intacta da natureza. A escolha das cores e o tratamento da luz criam uma harmonia difícil de explicar”. Convidado por swissinfo.ch a descobrir o trabalho de um dos maiores pintores suíços, Lechi Abaev se encontra em seu elemento. Esse artista checheno divide de fato com Hodler a mesma fascinação pelas rugosidades da montanha e da condição humana.
Essa exposição mostra os últimos cinco anos da vida do artista que, tendo chegado a uma grande liberdade de espírito e de traço, retomou incansavelmente os temas de sua preferência: paisagens alpestres e lacustres, e as mulheres. Abordou também o questionamento sobre a doença, a morte e a eternidade.
Primeiro artista genuinamente suíço
Em sua época, Ferdinand Hodler só conquistou a Suíça depois de fazer carreira na Europa. Hoje, em seu país como no estrangeiro, foi abandonada a imagem de artista histórico e “oficial” que não entusiasmava mais muita gente, e as obras mais próximas de sua pessoa são rapidamente vendidas nos leilões internacionais.
Filho de uma família simples em 1853, esse “natural de Berna com braços nodosos” pertence à geração da Constituição democrática da Suíça unificada de 1848. Sem surpresa, ele se lançou na pintura histórica e alegórica para apoiar um jovem Estado que precisava ilustrar suas raízes e que construía seus edifícios oficiais (Palácio Federal, Museu Nacional Suíço, correios, estações e casernas). Com seus monumentos a Guilherme Tell ou ao sermão do Grütli – fundador da Confederação em 1291 – Hodler marcou a imagem interior da Suíça. Com uma certa rudez sólida do traço, uma grandeza primitiva diferente da forma italiana, francesa ou germânica de sua época.
Segundo o especialista Jura Brüschweiler, “Hodler foi, pelo desejo de ficar em seu país, o primeiro a conseguir criar um estilo que todo mundo, primeiro no estrangeiro e depois na Suíça, acabou reconhecendo como tipicamente helvético. Não somente pelos temas, mas também pela concepção da arte e a maneira” (Hodler et les Suisses, Editions Pecel Art, 1991).
Um artista tão humano
Essa aura de patriota ocultou durante muito tempo a outra imagem, exterior, de líder da transição formal da arte europeia entre o século XIX e a época moderna. Nascido em Berna, mas tendo vivido em Genebra até sua morte em 1918, Hodler viveu as grandes transformações artísticas da época. As obras apresentadas em Basileia provêm da Neue Galerie de Nova York, onde “a exposição foi um grande sucesso da crítica e do público”, segundo a comissária Jill Lloyd.
As duas primeiras salas são dedicadas aos autorretratos, acompanhados de algumas fotos tiradas até seu último dia por sua amiga e mecenas Gertrud Müller. Hodler se representou frequentemente, com oito telas somente em 1916. São impressionantes as variações de um rosco que te olha direto nos olhos, pintadas com os mesmos traços espessos utilizados nas paisagens rudes de montanha, que deixa transparecer sua grande sensibilidade.
Para Jill Lloyd, são os mesmos autorretratos que são reinterpretados nas paisagens: “o pico solitário pode ser considerado como a expressão da força vital do indivíduo ou como o símbolo da solidão.”
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Ferdinand Hodler
As paisagens, justamente
Hodler pintou aproximadamente 700 paisagens, muitas no final da vida. Elas ocupam portanto várias salas da exposição. Os comissários não hesitaram em alinhar múltiplas representações das montanhas Jungfrau ou Dents du Midi, dos lagos de Thun ou Léman. Depois de ter privilegiado por muito tempo o desenho e a forma, o artista suíço descobre a cor e se entrega a uma espécie de explosão em que o traço tende a se dissolver nas superfícies.
Bloqueado pela doença em seu apartamento em Genebra, Hodler pinta o lago Léman de sua varanda em repetidas vezes. O visitante pode descobrir como o espelho horizontal das águas e das montanhas ficam cada vez mais abstratos em um paralelismo que, segundo o próprio artista, “ultrapassa a arte porque domina a vida.”
Lechi Abaev é particularmente admirativo das paisagens. “Esse artista atingiu uma grande precisão de representação de suas emoções através de seus retratos, mas sobretudo sua paisagens”, comenta o artista checheno. “Com seus jogos de luz ele capta tudo, ele sabe exprimir tudo, é isso que o torna único.”
Christie’s começou em 1991 seus leilões de arte suíça. Quase 100 anos depois da morte do artista, os preços atingir não cessam de aumentar, segundo Hans Peter Keller. “Dez anos atrás, um Hodler muito bom se vendia a 3 milhões de francos; hoje ele pode passar de 10 milhões. No plano internacional, ele é o mais caro depois de Alberto Giacommetti”, explica esse especialista em arte suíça na Christie’s.
Na Sotheby’s, Stéphanie Schleining-Deschanel vai mais longe. “Ainda vivo, esse artista emblemático participou de grandes exposições internacionais e esteve na vanguarda na virada do século 20 bem além de seu país. Hoje ele está presente em praticamente todas as nossas vendas de arte suíça em Zurique. Se a grande maioria dos compradores são suíços, os estrangeiros se interessam cada vez mais pelas figuras simbolistas.”
Valentine e a morte
Retemos enfim a evocação cruel da vida da morte de Valentine Godé-Darel, amante e mãe da filha do artista. Valentine deu a luz da pequena Paulette em 1913, quando já sofria de um câncer que a mataria quinze meses depois. Também doente, Hodler acompanhou as etapas do nascimento, doença e morte.
Lechi Abaev para diante de uma tela de Valentine com Paulette sentada sobre seus joelhos. “Apenas a cabeça da mãe é pintada a óleo, enquanto a forma da menina é somente um contorno, como uma simples marca. A combinação das cores quentes do rosto, da postura calma de Valentine cria uma intimidade tangível entre mãe e filha”. O artista checheno é particularmente admirativo pela maneira em que Hodler soube, “representando o último suspiro da moribunda, captar com precisão esse instante fugitivo de contato com a morte.”
Nascido em 1853 em Berna, é órfão aos 14 anos e começa uma aprendizagem em Thun com um pintor que produz obras em série para turistas.
1872: instala-se em Genebra onde frequenta a Academia de Belas Artes e passará grande parte de sua vida. Fica conhecido pelas obras dedicadas a temas históricos, míticos e simbólicos e por suas paisagens e retratos.
1884: encontra Augustine Dupin, seu modelo que dará seu primeiro filho. Ele pinta a morte da amante em 1909 tela (O Amor) que causa escândalo em Zurique.
1890:Realização de seu grande formato La Nuit (A Noite), que lhe dá a reputação de pintor simbolista.
1904: convidado de honra da Secessão em Viena, ele expõe 31 quadros. É o começo de sua notoriedade internacional.
1915: pinta a doença e a morte de Valentine Godé-Darel, mãe de seu segundo filho.
Em 2007 : A tela em óleo “Lac Léman vu de Saint-Prex” é vendido em leilâo em Zurique 10,9 milhões de francos suíços.
“Ferdinand Hodler: View to Infinity” apresenta 80 obras dos últimos cinco anos de vida do pintor suíço (1913-1918).
Essa exposição foi realizada em colaboração com a Neue Galerie de Nova York pelos comissários Ulf Küster (Fundation Beyeler) e Jill Lloyd (Neue Galerie).
As obras emprestadas provêm de colecionadores particulares americanos e suíços e de museus. Depois de apresentadas de 20 se setembro a 7 de janeiro na Neue Galerie à New York, ela fica até 26 de maio n Fundação Beyler em Riehen (Basileia).
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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