Placas especiais na Suíça já chegaram a valer quase 300 mil
Nas vias suíças, algo tão trivial quanto uma placa de carro esconde particularidades surpreendentes: ao contrário de muitos países, na Suíça a placa pertence ao proprietário, e não ao veículo. Além disso, placas raras ou de número icônico podem alcançar valores milionários em leilões.
1-A placa é pessoal, e não ligada ao veículo
Na grande maioria dos países, as placas de automóveis estão vinculadas ao veículo. Na prática, um número de placa é criado quando um veículo é registrado pela primeira vez e permanece associado a ele durante toda a sua vida útil, independentemente de quem seja o proprietário. Esse número geralmente é eliminado quando o veículo é definitivamente retirado de circulação e nunca mais será reutilizado. É o caso, por exemplo, da França.
A Suíça, por sua vez, faz parte dos poucos países onde as placas não estão ligadas ao veículo, mas sim ao seu proprietário. Esse sistema, bem menos comum, também existe, por exemplo, em Liechtenstein, na Noruega, na Suécia e em alguns estados norte-americanos, como Califórnia e Oregon.
Concretamente, na Suíça, recebe-se um par de placas na primeira vez que se compra um veículo, e geralmente se conserva esse mesmo número por toda a vida. Essas placas são transferidas sempre que se troca de carro. Também é possível usar um mesmo conjunto de placas intercambiáveis caso a pessoa possua dois veículos.
Para os mais nostálgicos, é possível transferir esse número para um membro da família quando se decide parar de dirigir, ou reservá-lo para recuperá-lo mais tarde, caso as placas sejam depositadas por um período superior a um ano. Em caso de não utilização definitiva, o número é destruído ou pode ser atribuído a um novo usuário – a prática varia de acordo com o cantão (estado).
Com efeito, as placas de registro são administradas pelos diferentes cantões. Para os proprietários, esse sistema federalista traz uma consequência bastante prática: não é possível manter o mesmo número ao mudar-se para outro cantão.
2-Os condutores podem ser facilmente identificados
As placas de veículos suíças padrão têm fundo branco com caracteres pretos. Também existem variações para usos mais específicos, como, por exemplo, fundo preto com caracteres brancos para veículos militares.
As placas padrão têm formato retangular na parte dianteira e podem ser retangulares ou quadradas na traseira. Os caracteres são compostos por duas letras que representam o cantão (por exemplo, BE para Berna) e por uma série de números (até seis) que servem para a identificação. A placa traseira também exibe os brasões da Suíça (à esquerda) e do cantão (à direita).
Na maioria dos países, os registros de veículos não são acessíveis ao público em geral, ficando restritos a órgãos como as forças policiais ou companhias de seguros. Na Suíça, porém, a prática é muito mais flexível: os dados estão disponíveis online e geralmente permitem obter o nome e o município de residência do proprietário.
Aí também, as regras variam conforme o cantão e sua interpretação mais ou menos rigorosa da Lei Federal sobre a Proteção de Dados. Alguns, como o Ticino, não permitem que o público em geral consulte o registro online, enquanto outros, como FriburgoLink externo, mostram-se bem mais flexíveis. Há ainda cantões (estados), como BernaLink externo, que adotam uma via intermediária, exigindo um registro online para acessar o banco de dados e o pagamento de uma taxa de um franco suíço por resultado.
De qualquer forma, na maioria dos casos, a prática é bastante permissiva. Contudo, conforme o artigo 89Link externo da Lei de Trânsito Rodoviário, é possível se opor à divulgação de seus dados mediante solicitação. Os diversos serviços cantonais de automóveis oferecem um formulário onlineLink externo para isso.
3-Um pequeno cantão da Suíça Oriental é destaque nas estradas
Algumas placas são raras de se ver nas estradas suíças. Por exemplo, as do cantão de Uri. É uma pena, aliás, pois elas têm muito estilo, com sua cabeça de touro preta sobre fundo amarelo vibrante.
Por outro lado, é bem mais comum cruzar com um urso preto sobre fundo branco, acompanhado das letras AI, indicação de que o veículo vem de Appenzell Rhodes-Interiores. No entanto, assim como Uri, esse pequeno e encantador cantão é pouco povoado e distante dos grandes centros urbanos. Seria o caso de concluir que os habitantes de Appenzell têm uma alma aventureira que os leva, mais do que os outros, a percorrer as estradas do país?
Na verdade, não: é bem provável que quem esteja dirigindo não seja um morador de Appenzell, mas sim um turista. De fato, grande parte dos carros de aluguel é registrada em Appenzell Rhodes-Interiores. Há duas razões para isso: o cantão oferece taxas de circulação muito baixas e procedimentos administrativos simplificados para o emplacamento, o que atrai as empresas de locação.
Esse comércio gera receitas estáveis para o pequeno cantão. E o sucesso é garantido: todos os anos, o número de veículos registrados é praticamente igual ao número de habitantes. Vale notar que Appenzell não é o único cantão a adotar esse prática – o mesmo ocorre em Schaffhausen, que também conta com muitos carros de aluguel.
4-Os números “especiais” podem render muito dinheiro
Talvez você se lembre da placa EWING 1, da série americana Dallas, dos anos 1980? Pois bem, algo desse tipo também poderia acontecer na Suíça. Nos cantões mais populosos, o sistema de emplacamento de seis dígitos está chegando ao seu limite, o que levou à ideia de permitir a criação de placas personalizadas, combinando números e letras.
Mas não é para amanhã que veremos uma placa “SWISSINFO 007”. No fim do ano passado, o Departamento Federal de Estradas anunciou que desistia da ideia, uma vez que a reformulação completa do sistema seria demasiado cara, especialmente em um momento em que o Estado está economizando. Para resolver o problema, o OFROU aposta na transição para um sistema de registro com 7 dígitos, que poderia se tornar realidade no cantão de Zurique já em 2027.
Essa decisão desapontou alguns cantões – em especial o Ticino –, que esperavam gerar receitas substanciais com as placas personalizadas. Mas, felizmente para as finanças cantonais, o sistema atual já lhes permite melhorar um pouco o orçamento.
A maioria dos departamentos de veículos automotores permite escolher entre os números ainda não atribuídos, mediante pagamento. E, de forma ainda mais lucrativa, certos números chamados “especiais” – por exemplo, com um único dígito ou dígitos idênticos – são regularmente colocados em leilão.
Por enquanto, o recorde absoluto pertence à placa ZH 24 (Zurique), que foi vendida em leilão por 299.000 francos suíços em 3 de julho de 2024, durante uma venda organizada por ocasião da Euro 2024. O recorde anterior era da placa ZG 10 (Zugo), vendida em 2018 por 233.000 francos suíços. Na Suíça francófona, o recorde é de 160.100 francos suíços pela placa VS 1 (Valais), e no Ticino, pela placa TI 10, vendida por 135.000 francos suíços.
5-As placas suíças são insuficientes em matéria de segurança
Seja no caso de cofres-fortes, cédulas bancárias, passaportes ou armazenamento de dados, a Suíça goza de uma sólida reputação em termos de segurança. Mas as placas de veículos acabam lançando uma sombra sobre esse quadro tão impecável.
Sem mudanças desde 1971, elas já não atendem aos padrões de segurança atuais e são facilmente falsificáveis. É possível encomendar cópias falsas no exterior, simplesmente pela internet. “Em matéria de segurança, estamos na pré-história”, denunciou à imprensa André Seiler, diretor da Plaques Suisses, a principal empresa do setor, responsável pela fabricação das placas em vinte cantões.
A questão acabou chegando ao campo político, com o senador Werner Salzmann, que recentemente questionouLink externo o governo. Em sua resposta, o Conselho Federal (n.r.: um colegiado de sete ministros que toma suas decisões através de consenso e representa o Poder Executivo) afirmou que vinte casos de falsificação foram descobertos desde 2024, mas que não existem estatísticas nacionais sobre o tema. Durante a última sessão parlamentar, perante a Câmara Alta, o ministro suíço dos Transportes, Albert Rösti, minimizou o problema, declarando que não há risco significativo para a segurança do Estado.
Insatisfeito com a resposta, Werner Salzmann apresentouLink externo um postulado pedindo ao Conselho Federal um estudo mais aprofundado sobre a questão.
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Edição: Samuel Jaberg
Adaptação: Karleno Bocarro
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