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Governo brasileiro envia tropas federais ao Ceará

Tropas do Exército realizam operação em Pacaraima, no estado de Roraima, em 18 de agosto de 2018. afp_tickers

O governo brasileiro enviou nesta sexta-feira tropas federais para conter a onda de violência desencadeada por facções criminosas no estado do Ceará, na primeira crise de segurança enfrentada pelo governo de Jair Bolsonaro.

A ordem foi assinada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, diante da multiplicação de “ataques contra ônibus, prédios públicos e (…) tentativas de explosão de obras públicas”, relacionados “com ações de grupos criminosos”.

Moro ordenou o envio de cerca de 300 membros da Força Nacional, por um período de 30 dias, a pedido do governador do Ceará, Camilo Santana, do Partido dos Trabalhadores.

Ataques foram registrados em Fortaleza, na capital, e em várias localidades, principalmente na região metropolitana.

Ao menos 45 pessoas foram presas, de acordo com um relatório oficial divulgado ao meio-dia de sexta-feira.

Os criminosos incendiaram cerca de 20 ônibus e postos de gasolina, atiraram contra agências bancárias e vandalizaram prédios e repartições públicas.

Em uma das ações de maior impacto, os criminosos destruíram parcialmente um viaduto em Caucaia, 20 km a oeste de Fortaleza, detonando explosivos em um dos pilares centrais da estrutura.

Relatórios de inteligência publicados pela imprensa atribuem a onda de violência a uma reação contra mudanças no regime prisional e à decisão de acabar com a separação de prisioneiros por facções que controlam os presídios.

O secretário estadual da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, recém nomeado por Camilo Santana, se disse determinado a recuperar o controle das prisões.

No Ceará atuam três grandes facções criminosas: Comando Vermelho (CV), que tem sua origem no Rio de Janeiro; o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o grupo local Guardiões do Estado (GDE).

CV e GDE haviam acertado um “pacto de não agressão” em sua disputa pelo controle de território para colocar o governo cearense em xeque, segundo fontes regionais de segurança.

As autoridades reforçaram a vigilância sobre as doze prisões do estado e informaram que 250 detentos serão denunciados por provocar distúrbios, incluindo 52 imputados por “desobediência, resistência e rebelião”.

Fotos publicadas pela imprensa local mostraram avenidas de Fortaleza vazias em plena luz do dia e pilhas de lixo em cidades onde o serviço de coleta foi suspenso desde os primeiros ataques.

– Governo do PT –

Moro havia desconsiderado na quinta-feira uma primeira ordem para enviar tropas, mas nesta sexta-feira aceitou.

Bolsonaro declarou nesta sexta-feira que Moro foi “hábil, rápido e eficiente” e assegurou que atendeu “a uma necessidade do povo cearense”, sem considerações sobre o fato de que “o governador reeleito é um adversário radical” do governo federal.

“Apesar do Governo do estado do Ceará ser do PT e realizar forte oposição a nós, jamais abandonaríamos o povo cearense neste momento de caos”, tuitou o presidente.

Mais cedo, Bolsonaro destacou que as autoridades do Ceará não expuseram a “real necessidade da presença da Força [Nacional] devido a sua incapacidade de resolver o problema”.

Várias cidades do Ceará já foram alvo de ataques simultâneos em março passado, após a instalação de bloqueadores de sinais celulares nas prisões.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, com 726.712 presos (dados de 2016), que geralmente vivem em condições miseráveis de superlotação e sob o comando de facções que disputam o controle do tráfico de droga.

Frequentemente são travados sangrentos ajustes de contas entre os bandos.

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