Papa conservador decepciona imprensa

Muitos editorais são críticos contra o novo Papa. swissinfo.ch

A eleição de Joseph Ratzinger não alegra a imprensa suíça. Alguns editoriais transmitem uma mistura de decepção e ceticismo.

O Papa Bento XVI é visto por muitos críticos como um teólogo conservador, que enterra as esperanças de reforma na Igreja católica.

A escolha de Joseph Ratzinger para suceder João Paulo II não surpreendeu os comentaristas. Já tendo tido grande influência no último pontificado, o cardeal alemão também foi figura de destaque durante o funeral do falecido Papa.

“A grande visibilidade do Colégio Sagrado teve um papel predominante na escolha”, destaca o jornal Le Temps. “A maioria dos 115 eleitores nunca havia participado de um conclave e por isso não é surpresa que eles tenham decidido pelo guardião dessa grande casa que é a Igreja”.

Um Papa em transição

Para muitos jornalistas, o novo Papa simboliza continuidade. “Com Ratzinger, os 26 anos de pontificado polonês serão prolongados e reforçados”, escreve o Tagesanzeiger.

“Essa rápida decisão prova que o Conselho de Cardeais chegou sem conflitos a um consenso sobre o futuro da Igreja católica. Eles não escolheram a reforma ou a abertura, mas sim a continuidade”, é o destaque no Luzerner Zeitung.

A maioria dos comentaristas acredita que o novo Bento XVI é mais um “Papa de transição”. Devido à sua idade – ele tem 78 anos – seu pontificado não deve durar muito tempo. Em todo caso, não será um período maior do que o do seu predecessor João Paulo II.

“Uma escolha desoladora”

O leitor percebe que o entusiasmo em relação à escolha do novo Papa não é acentuado na imprensa helvética. Muitos dos comentaristas vêem em Joseph Ratzinger um representante das correntes mais conservadoras da Igreja católica.

A Tribuna de Genève titula de uma forma direta suas manchetes: – “Uma escolha desoladora”. O jornal diário não esconde sua posição: – “Nós podemos dizer abertamente que a eleição de Bento XVI, ex-cardeal Ratzinger, vai decepcionar muitas pessoas”.

O jornal Blick, a publicação de maior tiragem na Suíça, fala que a nomeação de Ratzinger “sucinta profunda inquietação”. O Tagesanzeiger fala que “a crise vivida pela Igreja católica face à modernização pode até ser agravada”.

Segundo o Neue Zürcher Zeitung “a escolha permite aos cardeais de passar para o futuro questões básicas da Igreja e o debate sobre as reformas necessárias”.

“Após uma bonita abertura ao mundo, uma espécie de mentalidade de trincheira vai ocupar o mundo católico? Muitos fatos estão confirmando essa tese”, pergunta-se o editorialista do Basler Zeitung.

Uma evolução pode ser prejudicial para a própria Igreja, inclusive levando-se em conta o perigo de se afastar da realidade atual. “Nesse sentido será muito provável que ainda mais católicos na Europa se distanciem da Igreja”, escreve o Der Bund.

Surpresas possíveis

Se muitas publicações se mostram céticas, alguns combatem o pessimismo. Alguns acreditam que o Papa Bento XVI – cuja inteligência e capacidade oratória são reconhecidas mundialmente – será capaz de surpreender.

“E se o novo Papa nos surpreender? Ele tem seguramente essa capacidade e, quem sabe, até mesmo a vontade”, titula o 24 Heures.

“O novo Papa não se deixará intimidar por aqueles que querem que a Igreja católica se transforme numa espécie de albergue espanhol. Porém o desconhecimento ainda é muito grande em relação ao futuro da Igreja, mas sem se esquecer o ditado que diz que a função também faz o Papa”, conclui o Le Matin.

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