Navio de ajuda chega à costa de Gaza; Israel rejeita oferta de trégua do Hamas
Por Bassam Masoud, Nidal al-Mughrabi e Samia Nakhoul
FAIXA DE GAZA/CAIRO/DUBAI, 15 Mar (Reuters) – O primeiro navio com ajuda alimentar chegou nesta sexta-feira à costa da Faixa de Gaza, onde as esperanças de um cessar-fogo para salvar a população da fome sofreram um novo revés depois que Israel rejeitou a mais recente contraproposta de trégua do Hamas.
O navio Open Arms, que transportava 200 toneladas de alimentos, podia ser visto à distância na praia da faixa litorânea, vindo do Chipre.
A organização beneficente World Central Kitchen (WCK) pretende entregar a ajuda em um píer temporário, embora os detalhes precisos de como os suprimentos chegariam à costa não tenham sido esclarecidos.
Se a nova rota marítima for bem-sucedida, ela poderá ajudar a aliviar a crise de fome que afeta Gaza, onde centenas de milhares de pessoas sofrem de desnutrição e os hospitais nas áreas mais afetadas do norte relataram que crianças estão morrendo de fome.
No entanto, as agências de ajuda humanitária têm dito repetidamente que os planos de levar ajuda por via marítima e aérea não serão suficientes para atender as vastas necessidades do território.
A guerra começou com um ataque dos combatentes islâmicos do Hamas, que mataram 1.200 pessoas e fizeram 253 reféns em Israel no dia 7 de outubro, de acordo com os registros israelenses. Desde então, uma ofensiva israelense já matou mais de 31.000 pessoas e expulsou quase toda a população de 2,3 milhões de habitantes de Gaza de suas casas.
O Hamas apresentou aos mediadores sua mais recente contraoferta para um cessar-fogo de semanas, mas ela foi rejeitada por Israel, que disse que ela se baseava em “exigências irrealistas”.
Como as ofertas anteriores de ambos os lados nos últimos dois meses de negociações, a proposta do Hamas, analisada pela Reuters, prevê a libertação de dezenas de reféns israelenses em troca de centenas de palestinos mantidos em prisões israelenses.
Mas ela também exige conversações durante uma segunda fase que acabaria por levar ao fim da guerra. Israel tem dito persistentemente que discutirá apenas pausas temporárias nos combates e não o fim da guerra até que o Hamas seja erradicado.
AINDA TRABALHANDO EM UM ACORDO
Sami Abu Zuhri, uma autoridade sênior do Hamas, disse à Reuters que a rejeição de Israel mostra que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está “determinado a prosseguir com a agressão contra nosso povo e a minar todos os esforços feitos para chegar a um acordo de cessar-fogo”.
Cabe a Washington pressionar seu aliado Israel a aceitar um cessar-fogo, afirmou ele.
Os mediadores de Estados Unidos, Egito e Catar esperavam chegar a um cessar-fogo a tempo para o mês sagrado muçulmano do Ramadã, mas esse prazo expirou esta semana. O presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, cujo país sediou as principais negociações neste mês, disse que ainda estava trabalhando duro para chegar a um acordo.
As Nações Unidas afirmam que todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão sofrendo com uma crise alimentar e um quarto deles está à beira da fome, especialmente no norte.
Israel, que fechou todas as rotas terrestres para Gaza, com exceção de duas passagens no extremo sul do território, nega a culpa pela fome e diz que as agências de ajuda deveriam fazer um trabalho melhor na distribuição de alimentos. As agências dizem que precisam de melhor acesso e segurança, ambos de responsabilidade das forças israelenses que bloquearam a faixa e invadiram suas cidades.
A distribuição da ajuda limitada que chega tem sido caótica e frequentemente violenta sob a vigilância dos tanques israelenses.
Em um dos piores incidentes já relatados, as autoridades de saúde de Gaza informaram que pelo menos 21 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas na noite de quinta-feira, culpando as forças israelenses por abrirem fogo contra uma multidão que fazia fila para pegar comida em um cruzamento de estradas perto da Cidade de Gaza.
Israel negou que suas tropas fossem as culpadas, como fez em incidentes anteriores, incluindo o mais mortal até agora, em 29 de fevereiro, quando mais de 100 pessoas foram mortas.