The Swiss voice in the world since 1935

França: 10 pessoas julgadas por assédio online contra a primeira-dama

afp_tickers

O julgamento de dez pessoas acusadas de assédio cibernético sexista contra a esposa do presidente francês, Brigitte Macron, começou perante um tribunal de Paris na segunda-feira, na ausência da vítima, que foi alvo de informações falsas que circularam pelo mundo e afirmavam que ela era um homem.

O julgamento, que será realizado na segunda e terça-feira e cuja primeira audiência foi concluída, ocorre depois que, no final de julho, o casal presidencial o casal presidencial iniciou ações legais nos Estados Unidos por difamação após anos de polêmicas e rumores amplamente divulgados por redes conspiratórias e de extrema direita.

A diferença de idade de 24 anos entre Brigitte e Emmanuel Macron explica em parte a propagação do boato, que avançou muito além das fronteiras do país.

Brigitte Macron, de 72 anos, não esteva presente nesta segunda-feira no início do julgamento em um tribunal correcional da capital francesa contra os acusados, oito homens e duas mulheres, com idades entre 41 e 60 anos.

Não é esperado que ela compareça ao tribunal, mas sua filha Tiphaine Auzière pode testemunhar na terça-feira, declarou à AFP o advogado de Brigitte Macron.

A informação falsa surgiu após a eleição de Emmanuel Macron em 2017 e viralizou especialmente nos Estados Unidos, onde o casal presidencial recentemente iniciou ações legais contra a podcaster de extrema direita Candace Owens, próxima ao movimento trumpista MAGA e conhecida por suas posturas antissemitas e pró-Rússia.

Várias pessoas julgadas em Paris por assédio online compartilharam publicações de Owens, que possui milhões de seguidores nas redes sociais e é autora de uma série de vídeos com o título “Becoming Brigitte” (“Tornando-se Brigitte”).

Em outra publicação, um acusado afirmou que havia “2 mil pessoas” dispostas a ir de “porta em porta em Amiens [cidade natal do casal, no norte da França[ para esclarecer o tema Brigitte”, com a promessa de participação de blogueiros americanos na suposta mobilização.

A investigação por assédio online foi coordenada pela Brigada de Repressão ao Crime contra Pessoas (BRDP) após uma denúncia apresentada por Brigitte Macron em 27 de agosto de 2024, o que resultou em várias ondas de detenções, em particular em dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.

Vários acusados afirmaram perante o tribunal que queriam fazer “humor” ou “informar”.

– “Assédio inverso” –

Os acusados são suspeitos de comentários maliciosos sobre Brigitte Macron a respeito de seu “gênero” e sua “sexualidade”, além de terem afirmado que a diferença de idade de 24 anos entre ela e seu marido, o presidente do país, equivale a “pedofilia”, segundo o Ministério Público de Paris.

Entre os réus está o publicitário Aurélien Poirson-Atlan, 41 anos, conhecido nas redes sociais como “Zoé Sagan”. Sua conta no X, que está suspensa, foi alvo de várias denúncias e frequentemente é apresentada como vinculada a círculos de teorias da conspiração.

Durante um recesso do julgamento na segunda-feira, Poirson-Atlan deu uma coletiva de imprensa improvisada na qual denunciou “assédio reverso”. 

Bertrand S., um galerista de 56 anos com mais de 100 mil seguidores no X, expressou-se em termos semelhantes.

“A imprensa nos retrata como ultradireitistas, antissemitas e conspiracionistas”, declarou à AFP na véspera do julgamento. “Quem está sendo assediado?”.

Outra acusada é a “médium”, “jornalista” e “denunciante” Delphine J., 51 anos, conhecida pelo pseudônimo de Amandine Roy, que divulgou o boato de que Brigitte Macron, cujo sobrenome de solteira era Trogneux, era na verdade seu irmão Jean-Michel Trogneaux, que havia mudado de gênero.

A “médium” foi considerada culpada por difamação em 2024 e condenada pela Justiça francesa a pagar milhares de euros por danos e prejuízos a Brigitte Macron e a seu irmão Jean-Michel, mas foi absolvida no julgamento do recurso no dia 10 de julho. Brigitte Macron e seu irmão apelaram contra a decisão.

Entre os outros acusados estão um funcionário eleito, um galerista e um professor. Todos podem ser condenados a até dois anos de prisão.

Outras mulheres do mundo da política já foram vítimas de informações falsas de caráter transfóbico em outras regiões do mundo, como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a ex-vice-presidente dos Estados Unidos Kamala Harris e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern.

ch-cl/rnr/mb/fp/dd/hgs/mb/lm/am

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR