Israel suspende entrega de ajuda humanitária em Gaza, Hamas denuncia violação à trégua

Israel anunciou neste domingo (2) a suspensão da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, uma decisão que o Hamas denunciou como uma violação do estagnado acordo de cessar-fogo.
No território palestino, o Ministério da Saúde do governo do Hamas anunciou a morte de quatro pessoas em ataques israelenses. Israel afirmou que havia atacado suspeitos que manipulavam um “artefato explosivo”.
Depois do término da primeira fase da trégua, que entrou em vigor em 19 de janeiro após ser negociada com a mediação do Catar e o apoio de Egito e Estados Unidos, Israel e o movimento islamista palestino não conseguem chegar a um acordo sobre a próxima etapa do processo.
Essa estagnação ameaça a trégua alcançada após 15 meses de guerra devastadora em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas contra o sul de Israel de 7 de outubro de 2023.
Israel afirmou que havia aceitado uma proposta de última hora apresentada pelo enviado americano para o Oriente Médio, Steve Witkoff, que prevê a extensão da trégua durante o feriado muçulmano do Ramadã e até a Páscoa judaica, ou seja, até meados de abril.
Segundo Israel, a proposta também prevê, durante esse período, a libertação de todos os reféns ainda mantidos em cativeiro em Gaza em duas etapas, sendo que a segunda delas está condicionada a um acordo de cessar-fogo permanente, ainda a ser negociado.
O Hamas rejeitou essa proposta e exige a aplicação da segunda fase prevista no acordo inicial da trégua, considerando que o compromisso dos Estados Unidos equivale a Israel “renegar os acordos que assinou”.
Diante da “recusa” do Hamas em aceitar o plano americano, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou a suspensão “a partir desta manhã [de] qualquer entrada de mercadorias e suprimentos na Faixa de Gaza”.
– Aumento dos preços –
O Hamas denunciou imediatamente a decisão como “uma chantagem barata, um crime de guerra e um ataque descarado contra o acordo” de trégua.
O movimento palestino, que governa Gaza desde 2007, pediu que “os mediadores e a comunidade internacional pressionem” Israel para que “ponha fim às suas medidas punitivas” contra os mais de dois milhões de habitantes de Gaza, devastada por Israel desde outubro de 2023.
A Jihad Islâmica, um movimento aliado ao Hamas na guerra, também culpou Israel pelas “consequências de sabotar” a trégua.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu “a retomada imediata do fluxo de ajuda humanitária”, e o titular do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), Thomas Fletcher, assinalou que a decisão de Israel “é preocupante”.
“Por volta das 7h30 [locais], o Exército deu a ordem” de fechar a passagem fronteiriça de Kerem Shalom, relatou Abu Yussef Shheiber, um transportador que teve que dar meia-volta.
“Quando os comerciantes foram informados do fechamento […] os preços subiram”, lamentou Um Mohammad Abu Laia, moradora de Rafah.
O chefe da diplomacia israelense, Gideon Saar, classificou de “mentira” as repetidas advertências das organizações internacionais sobre a ameaça de fome em Gaza durante a guerra.
O acordo inicial de cessar-fogo compreende três fases, cada uma com duração de 42 dias.
Durante a primeira fase, que esteve à beira do colapso várias vezes, o Hamas libertou 25 reféns e devolveu os corpos de outros oito a Israel, em troca da libertação de cerca de 1.800 prisioneiros palestinos.
Dos 251 reféns levados a Gaza durante o ataque de 7 de outubro, 58 seguem retidos ali, dos quais 34 estariam mortos segundo o Exército israelense.
– ‘Implementação total’ –
A segunda fase, por enquanto hipotética, prevê a libertação dos reféns que permanecem em Gaza, em troca de centenas de prisioneiros palestinos, e o fim definitivo da guerra.
A última etapa deve focar na reconstrução do território palestino.
O acordo inicial inclui uma cláusula que prolonga automaticamente a primeira fase enquanto a segunda ainda estiver em negociação.
Israel exige que a Faixa seja desmilitarizada e o Hamas eliminado. O movimento islamista, no entanto, insiste em ficar.
O Egito pediu a “implementação total” do acordo. Nesta segunda-feira, está prevista uma reunião ministerial árabe no Cairo, seguida de uma cúpula árabe sobre Gaza.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 resultou na morte de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um balanço da AFP feito com dados oficiais.
A campanha militar de represália de Israel em Gaza deixou mais de 48.000 mortos, segundo informações do Ministério da Saúde do território, que a ONU considera confiáveis, e mergulhou seus 2,4 milhões de habitantes em uma situação humanitária desastrosa.
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