Opositor González pede a procurador-geral que evite ‘perseguição’ política na Venezuela
Edmundo González Urrutia, adversário de Nicolás Maduro em sua contestada reeleição, pediu na quarta-feira (4) ao procurador-geral da Venezuela que evite uma “perseguição” política, em um momento em que é alvo de uma justiça acusada pela oposição de servir ao chavismo.
A mensagem do opositor de 75 anos, que está na clandestinidade desde 30 de julho, foi transmitida por seu advogado, convocado pelo procurador-geral para uma reunião, que aconteceu no final da tarde de quarta-feira.
González afirma ter vencido as eleições em que Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato consecutivo, o que gerou uma grave crise política.
O Ministério Público (MP) o investiga por suposta “desobediência às leis”, “conspiração”, “usurpação de funções” e “sabotagem”. O foco é um site que a oposição liderada por María Corina Machado alimentou com cópias de mais de 80% das atas de votação que, segundo eles, servem como prova de uma vitória esmagadora de seu candidato.
Seu advogado, José Vicente Haro, não conseguiu acessar o processo, mas foi ao MP para entregar ao procurador Tarek William Saab, alinhado ao chavismo, um documento legal em que justifica a ausência de seu cliente nas três convocações emitidas pelo órgão e que resultaram no pedido de prisão.
O objetivo era apresentar um documento no qual se esclarecem todos os detalhes pelos quais Edmundo González Urrutia não compareceu no exercício de seus direitos e garantias, preservando toda a sua integridade física”, disse Haro à imprensa após a reunião com Saan.
Gonzáles Urrutia se dirigiu ao procurador-geral através do documento apresentado por sua defesa.
“Estimo que tal comparecimento só poderia contribuir para intensificar ainda mais a tensão social, além de consolidar um contexto de judicialização incriminatória da política que todos devemos rejeitar”, indicou González no documento.
“Nesse sentido, é preciso ter em mente que, nas últimas semanas, foram emitidas declarações públicas de altos porta-vozes governamentais e de outras instituições do Estado que me condenam antecipadamente e, como digo, sem fundamento”, acrescentou o opositor no texto.
O Ministério Público compartilhou em sua conta no Instagram uma fotografia de Saab durante o encontro com a defesa de González. “Amanhã [quinta-feira] iremos revelar toda a verdade”, indicou Saab na publicação.
– Esforços diplomáticos –
Os Estados Unidos, o alto representante da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, e nove países da América Latina rejeitaram o mandado de prisão contra González. O Brasil e a Colômbia ressaltaram que a ação dificulta a busca por uma solução pacífica.
Até agora, não foi concretizada uma reunião de Maduro com seus pares Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro, que expressaram sua “profunda preocupação” com a ordem de prisão contra González Urrutia.
O chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, disse na terça-feira que “provavelmente” a reunião de Maduro com Petro e Lula seria nesta quarta-feira. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que foi muito ativo no início desses esforços, mas depois se distanciou, também participaria.
“Nunca tive confirmação disso, nem estava em nossa agenda”, afirmou, porém, uma fonte da presidência brasileira à AFP.
O ministro do Interior da Venezuela, o influente dirigente chavista Diosdado Cabello, negou na quarta-feira que Maduro tenha planejado uma reunião com seus homólogos do Brasil, Colômbia e México.
Cabello desmentiu o ministro colombiano e acusou de ser “um funcionário dos Estados Unidos”.
“Ele acredita que poder dizer ‘estamos coordenando uma reunião entre Colômbia, Brasil e México para abordar a questão da Venezuela’. Como é? Nós, venezuelanos e venezuelanas, tratamos a questão da Venezuela”, acrescentou. “(Ele começa) a falar mentiras e coordenar uma reunião, o próprio presidente López Obrador saiu dizendo ‘não temos nenhuma reunião'”.
Cabello afirmou ainda que sabe onde González Urrutia está escondido.
– Militar americano detido –
Os Estados Unidos, convencidos da vitória de González, afirmaram que estão avaliando “opções” contra Maduro. No passado, o país já impôs sanções contra a Venezuela, embora tenham sido flexibilizadas no último ano.
As autoridades americanas informaram ainda nesta quarta-feira que um militar do seu país foi detido em 30 de agosto “enquanto estava em viagem pessoal na Venezuela”. O governo venezuelano não se pronunciou.
A proclamação de Maduro como vencedor das eleições de julho desencadeou protestos que deixaram 27 mortos, 192 feridos e 2.400 detidos, entre eles mais de uma centena de adolescentes, dos quais 86 já foram liberados com medidas cautelares.
A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta quarta-feira em um relatório que as autoridades venezuelanas estão cometendo “violações generalizadas dos direitos humanos” contra manifestantes, transeuntes, opositores e críticos.
Maduro, por sua vez, responsabiliza Machado e González pelos atos de violência nas manifestações e pediu que ambos sejam presos.
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